A Taberna do Manelvina, situado nas Cruzes (Salir de Matos), é um dos mais típicos restaurantes do concelho das Caldas da Rainha e está a comemorar 20 anos da sua abertura. Os seus grelhados de carnes bravas são famosos por todo o país e é por isso que é conhecida como a casa do grelhado e do aficionado.
A formação de Alfredo Isabel, cujo talento para os grelhados o tornam a figura central da Taberna do Manelvina, pouco ou nada tem a ver com a cozinha. Há quase 50 anos formou-se na Escola Industrial e Comercial das Caldas da Rainha (actual Escola Rafael Bordalo Pinheiro). Dali foi trabalhar para Alverca, nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA) e embora isso também nada tenha a ver com restauração, esse passo foi muito importante para a abertura do restaurante, anos mais tarde. Foi em Alverca, terra muito ligada aos toiros, que fomentou “grandes amizades” no mundo da tauromaquia, com toureiros, forcados e ganadeiros.
Depois das OGMA estabeleceu-se com uma empresa de canalizações e engenharia civil. No entanto, um problema de saúde obrigou-o a uma cirurgia e a mudar de actividade.
Foi trabalhar com o pai, Manuel Isabel, o Manelvina original, nos Estabelecimentos Isabel, nas Cruzes. Os “estabelecimentos” eram compostos por uma mercearia, um café, taberna e armazéns de agroquímicos e rações. Foi aqui que tudo começou.
As visitas dos engenheiros da Bayer, que se tornaram seus amigos, acabavam sempre com uma churrascada. Mais tarde, as tertúlias alargaram-se também aos agricultores, quando se faziam ali apresentações de novos produtos.
Os grelhados de Alfredo Manelvina começaram a ganhar fama e quando foi necessário fazer obras na taberna, em 1997, “deixámos um cantinho para fazer os grelhados”, conta. “As pessoas vinham das actividades no campo e chegavam aqui para lhes grelhar uma febrazita. Eu saía do armazém, acendia o lume e vinha aqui grelhar”.
Por coincidência, um compadre de um dos engenheiros da Bayer estabeleceu-se na Venda do Pinheiro com um talho de porco preto. Esse engenheiro convenceu-o a comprar cinco quilos dessa carne brava e começou assim a confeccionar uma das carnes mais afamadas hoje da casa.
“Não se abriu logo como restaurante”, realça Afredo Isabel. O conceito cresceu aos poucos, inicialmente com refeições para grupos de amigos até se transformar num restaurante a sério. Os forcados, toureiros e ganadeiros, com quem cultivou amizade desde os tempos de Alverca, começaram a visitá-lo e foi daí que surgiu outro ícone da casa: a carne de touro de lide.
“Desafiaram-me a experimentar essa carne e foi um sucesso”, observa Alfredo Manelvina. Parte do segredo desta carne é a sua qualidade. Durante a temporada da lide, a carne que serve passou na arena. E fora da época a qualidade é garantida pelos mesmo fornecedor. “Tenho touro bravo sempre com o peso certo, entre os 300 e os 400 quilos, que tem os pojadouros com mais qualidade”, conta. O resto do segredo está nas mãos que grelham e temperam a carne.
O que começou por ser uma coisa simples, “acabou por se tornar uma coisa muito engraçada e muito séria. Temos que ter muita responsabilidade no que fazemos para termos sucesso”.
TODO UM CONCEITO DIFERENTE
Todo o conceito da Taberna do Manelvina é diferente, desde a decoração ao serviço. “Aqui as pessoas não fazem o pedido”, começa por descrever Alfredo Isabel. E também não se espera pela comida. “Pode demorar tempo a sentar, mas assim que as pessoas se sentam vem logo pão e a salada de tomate, depois os enchidos, a entremeada, a febra…”
Só a partir daí é que vêm as opções… desde que sejam grelhados. Pode seguir-se uma costeleta ou bife de vitela e por aí fora, até ao bife de touro. Também se pode comer um bacalhau e, na altura própria, a sardinha assada. “Vem aqui gente da Nazaré e Peniche para comer sardinhas”, realça.
Isto acontece porque existe ali um nível de exigência com a qualidade muito elevado, que leva o próprio mestre grelhador a apurar as suas próprias técnicas até à perfeição. Uma sardinha ali assada ou um bacalhau é uma coisa mesmo diferente do comum.
A única especialidade da casa que não sai da grelha é o cozido de carnes bravas, que é servido todas as quartas-feiras nos meses de Inverno. Outras originalidades da casa são a entrada de tomate biológico e pimentos temperados com ervas aromáticas produzidas na região. E as saídas, os famosos “cachecol” e “água do luso” que, na verdade, são respectivamente um abafado e uma aguardente, rebatizados pelos próprios clientes.
A própria decoração foi inovadora na Taberna do Manelvina. Alfredo Isabel conta que, no início, todo o espaço estava revestido a azulejo, o que tornava desconfortável em termos de acústica. “Era preciso dar a volta a isso e um amigo, arquitecto de Leiria, lembrou-se de forrar a parede com caixas dos vinhos. Agora vê-se isto em muitos lados, mas aqui fomos os primeiros”, refere.
Na Taberna do Manelvina trabalham sete pessoas todos os dias, mais duas ao fim-de-semana. Alfredo Isabel diz que ali se trabalha muito “e ganha-se pouco”, mas sente-se feliz porque “faço aquilo que gosto e tenho uma clientela que são todos meus amigos”. E assim está a comemorar os 20 anos da casa.