Joana Louro
médica
Adoro celebrar! Mas não festejo as passagens de ano. Não me visto a rigor, apesar de adorar outfits e de ser uma apaixonada por moda. Não participo em festas de passagens de ano, apesar de adorar dançar até ser dia, jantar com os amigos e rir até não poder mais. No meu calendário pessoal esta tudo certo na essência, só não está adequado à exigência do timing calendarizado no dia 31 de Dezembro.
Às vezes penso que tenho de trabalhar nisto… que este afastamento pode espelhar um lado oculto de indisciplina… ou alguma inaptidão social que de alguma forma tento esconder…
Mas não gostar de festejar passagens de ano, não significa que não goste do Novo Ano. Adoro recomeços. Adoro a possibilidade de podermos fazer diferente, melhor. Adoro a ideia de que o melhor ainda está para vir e que todos temos uma participação ativa neste processo. E por isso abraço sempre com grande entusiasmo o novo ano, com o entusiasmo de uma criança que ainda tem mil sonhos e projetos por concretizar.
Se me focar no Serviço Nacional de Saúde (SNS) são milhares os desejos para 2025. 12 passas não seriam suficientes para tantos pedidos! Mas sou pessoa de foco e a idade ensinou-me que menos é mais. Por isso decidi escolher apenas um desejo para o SNS 2025: Tolerância!
Os acontecimentos das ultimas semanas em Martim Moniz mostraram-me um pais que me envergonha, porque humilha o nosso bem mais precioso: a vida humana.
E não permitamos nunca que estes tempos sombrios, marcados pela mediocridade politica e a fome do imediatismo nos confunda a essência e nos turve a visão. No SNS só pode haver espaço para a Tolerância. O acesso deve ser inquestionável e ilimitado, não excluindo ninguém, sobretudo não excluindo os mais vulneráveis.
E não nos enganemos! Já sabemos que as dividas atribuídas a estrangeiros ditos “ilegais” representam valores insignificantes no orçamento do SNS. É reconhecido que a maioria das situações não são abusos, mas questões humanitárias. Não podemos negar cuidados de saúde a estas pessoas, porque é negligenciar uma parte da população que vive, trabalha e contruibui para o país. Mas sobretudo porque está errado. Errado do ponto de vista de saúde pública com consequências graves para toda (toda!) a sociedade. Mas porque está errado do ponto de vista ético! Do ponto de vista humano.
No final do dia, não podemos esquecer que somos todos uma só família. E quero continuar a orgulhar-me de viver num país em que a saúde é um direito a que todos têm acesso.
Este ano vou trabalhar na passagem de ano… 24 horas no Serviço de Urgência… O que significa que quando sair as 8h00 da manhã do dia 1 de Janeiro daquela que é a minha segunda casa e a minha segunda família… um mundo novo de oportunidades estará à minha (nossa) espera… que 2025 seja tudo aquilo que quisermos. Mas que nos nossos desejos não esqueçamos o Outro! Que 2025 seja simplesmente incrível! ■