Vítor Ilharco
Personal Trainer
O conceito de ginásio em Portugal mudou bastante. Há 30 anos, estes espaços eram muitas vezes caves escuras, equipadas apenas com máquinas de musculação e direcionadas sobretudo a homens que procuravam aumentar a massa muscular.
Felizmente, esse contexto alterou-se. Possivelmente, desde o aparecimento do primeiro Holmes Place em Portugal (1998), o exercício passou a ser associado também à saúde, bem-estar físico e mental, levando a um crescimento exponencial da procura. Esse é o discurso predominante do setor — embora nem sempre se traduza na prática.
Segundo o último Eurobarómetro (2022), os ginásios (30%) e o espaço exterior (52%) são os locais mais utilizados pelos portugueses para praticar atividade física. A percentagem que treina em ginásios é bastante superior à média europeia (13%). Isto mostra que o mercado português é maduro e diversificado, oferecendo opções para diferentes perfis: desde espaços low cost até clubes exclusivos e especializados. Ainda assim, persiste um problema estrutural: uma elevada rotação de clientes, com muitos cancelamentos mensais e inúmeros casos de inscrições ativas sem utilização.
Com a pressão para captar cada vez mais membros, muitos ginásios (não todos, claro) acabaram por tornar-se “vendedores de fitness”, descurando o acompanhamento efetivo dos praticantes. Para inverter esta realidade, considero essencial dar mais atenção a três pilares da experiência do cliente:
Autonomia
O praticante deve ter um papel ativo na definição do seu processo de treino e nas metas a alcançar. O técnico de exercício físico precisa de apresentar opções, ensinar, orientar e ajudar a estabelecer objetivos realistas.
Competência
É fundamental que o aluno sinta estímulo e evolução. Para isso, o técnico deve propor desafios ajustados, dar feedbacks construtivos e positivos e valorizar pequenas conquistas ao longo do caminho.
Relacionamento
Mais do que treinar, o praticante deve sentir-se integrado, valorizado e parte de uma comunidade. Ambientes positivos, sem pressões desnecessárias, e preferencialmente com trabalho em grupo ou acompanhamento próximo, aumentam a motivação e a adesão.
O fitness em Portugal deu passos notáveis, com profissionais e projetos de enorme qualidade em todo o país. O próximo desafio é garantir que essa evolução se reflete na experiência do praticante, promovendo um treino mais autónomo, competente e relacional, capaz de transformar inscrições em participação efetiva e duradoura.


































