O dia de hoje, 25 de novembro, marca o contributo decisivo que as gentes do Oeste, reunidas em Rio Maior, deram no processo democrático português. Se imaginarmos o espetro político como um grande relógio, cujo pêndulo pode estar mais para a direita ou mais para a esquerda, no Portugal anterior a 1974 o pêndulo estava preso do lado direito. Quando, em 25 de abril de 1974, Salgueiro Maia e os seus homens libertaram o pêndulo, ele deslizou, naturalmente, até ao extremo oposto e, quando aí chegou, tentaram prendê-lo à esquerda. A situação portuguesa arriscava-se a passar de uma ditadura de direita para uma ditadura de esquerda. Foi precisamente no dia 25 de novembro de 1975 que se voltou a libertar o pêndulo da nossa democracia, permitindo que fossem os portugueses, através de eleições livres, a escolher quais os partidos políticos que, conjunturalmente, passaram assumir a responsabilidade de governar o país.
Entretanto muita coisa mudou na nossa democracia e está na hora de enterrar o machado de guerra. O Partido Comunista e os políticos que vieram, anos mais tarde, a formar o Bloco de Esquerda mantiveram sempre um compreensível agastamento contra o que aconteceu no dia 25 de novembro. Sendo estes os que tentaram criar uma ditadura de esquerda que substituísse a de direita, é natural que a consolidação da democracia lhes cause ainda, mais de 40 anos volvidos, alguns engulhos.
No entanto, tal como os portugueses aceitaram, com uma calma olímpica, e sem que o resultado das últimas eleições o deixasse adivinhar, a aproximação destes partidos ao arco da governação, está na hora deles aceitarem que Portugal é uma democracia consolidada e que devemos isso a estes dois momentos libertadores: o 25 de abril de 1974 e o 25 de novembro de 1975.
Hoje já sabemos todos que os comunistas não “comem criancinhas ao pequeno-almoço”. Já sabemos todos que o Bloco de Esquerda deixou de querer lutar contra a União Europeia e contra a NATO, tendo sido suficiente, para essa mudança, que lhe tivessem reservado um lugar à mesa em que é servido o Orçamento de Estado. Ambos passaram a aceitar, por fim, a austeridade que, de forma mais ou menos disfarçada, o governo de António Costa nos está a impor a todos para que as elites possam desapertar o cinto.
Esta capacidade que estes partidos mais radicais demonstraram ao adaptarem-se às novas circunstâncias, em que foram chamados a contribuir para uma solução de governo, deixava adivinhar que, também nas Caldas, pudessem unir-se ao PS e até ao CDS para tentarem derrubar o PSD. O recente anúncio da candidatura de Luís Patacho à Câmara Municipal pelo PS caldense, podia ser entendida como o fim da embrionária geringonça local. No entanto, como já o disse noutras crónicas, a geringonça de António Costa apenas resultou porque apanhou os portugueses de surpresa. Daí que, a nível local, nunca acreditei que todos os partidos da oposição anunciassem qualquer coligação antes das eleições.
Assim, não só porque existe sempre a possibilidade de estar na calha uma coligação pós-eleitoral mas, essencialmente, pela grande qualidade do candidato Luís Patacho, pessoa com uma enorme dedicação à sua terra, esta escolha do PS caldense vai certamente levar, por um lado, o presidente Tinta Ferreira a empenhar-se ao máximo neste final de mandato e, por seu turno, obrigar o PSD local a preparar e executar uma campanha autárquica eficaz. Só assim conseguirão recuperar o quinto vereador que lhes escapa há vários anos.