Sandra Santos
Diretora pedagógica
Vivemos numa era em que as redes sociais moldam opiniões e têm o poder de unir vozes em torno de causas nobres. Contudo, com a mesma força, unem vozes de ódio e organizam autênticos pelotões virtuais. Em poucos cliques, um conteúdo que transmite valores positivos pode transformar-se numa ferramenta de condenação coletiva, e basta um “partilhar” para que se propague um pensamento, uma crítica ou até uma injustiça.
No espaço de uma semana, tivemos exemplos deste mundo tão contrastante. Se, por um lado, as redes sociais mobilizaram ajuda humanitária na sequência de uma catástrofe natural no país vizinho; por outro, transformaram-se num campo minado de julgamentos, manipulação e exclusão, movimentando discursos radicais e ações destrutivas na nossa capital.
Hoje, partilhar tornou-se um ato de poder, um poder obtido em menos de um segundo, na preguiça de um sofá. Mas o que acontece quando esse poder é mal direcionado? Fomos habituados a absorver e partilhar tudo o que se torna viral, muitas vezes sem questionar fontes, (fide)dignidade ou sem procurar mais informação. Perante uma denúncia, uma opinião ou uma frase descontextualizada, o utilizador das redes sociais transforma-se em juiz, declarando o outro como culpado, mesmo que a história completa seja desconhecida. Este é o palco para a cultura do cancelamento – uma prática onde o perdão e a compreensão são substituídos pela ânsia de julgar e pelo prazer de punir, em milhares de partilhas e tantos outros comentários incendiários, porque uma partilha em massa nunca é neutra. Cada partilha reforça uma narrativa, fortalece uma opinião e, de certa forma, contribui para influenciar o pensamento coletivo. Esse ato, que deveria ser guiado por responsabilidade e ponderação, é muitas vezes feito de forma impulsiva, sem reflexão. Em segundos, criamos ídolos, arruinamos reputações e “atiramos a primeira pedra”, lançando a dúvida e plantando uma semente.
Onde estará o limite? Talvez esteja na maturidade e empatia de olhar para além do que está à superfície. Antes de seguirmos a onda, perguntar: estamos a usar este poder e esta liberdade de forma construtiva ou apenas a reagir a uma provocação do momento? Esta reflexão é fundamental numa época em que todos nós, ao mesmo tempo que somos “influenciadores”, estamos também vulneráveis ao julgamento em massa.
Afinal, mais do que seguir a corrente, cabe a cada um de nós decidir se queremos ser agentes de união ou de destruição, nas redes e fora delas. ■