A Modernidade e o Espírito da Época [Zeitgeist]

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Guilherme José
Livreiro “Malfeitor”

A Modernidade inicia-se, numa perspetiva filosófica, com uma nova definição de “ente” assim como de “sujeito”, esta última sofrendo uma forte influência do pensamento Cartesiano e muito criticada por outros pensadores, dentro dos quais, Friedrich Nietzsche.
Podemos classificar o “Zeitgeist” da Modernidade – termo construído por Johann Gottfried von Herder, com a finalidade de determinar os atributos gerais de uma geração inserida numa época específica – como sendo portador de ideias de progresso, evolução, e promoção de um individualismo hiperbolizado.
Destas considerações, existem duas ilações possíveis, de forma muito resumida: ao admitirmos a autonomia do sujeito o mundo torna-se, de forma obrigatória, imagem, uma vez que o “subjetum” só recebe expressão quanto mais exaustivamente se tiver em conta a objetividade; num segundo plano, o subjetivismo extremo pode mesmo ser encarado como a formulação de uma anti-essência [Unwesen], diz-nos Heidegger, porque a subjetividade convida a que determinemos a totalidade do “ente” como mundividência, o que nos leva a um processo de desdivinização (fenómeno tão caraterístico no período Moderno e Pós-moderno) onde subsiste a transformação, neste caso, a tentativa de humanizar e tornar mundanas todas as instâncias outrora interpretadas como Sagradas.
Assistimos à queda de todos os símbolos vistos até então como transcendentais (portadores de uma substância independente da nossa) em troca de perspetivas de imanência (os símbolos não são mais analisados como independentes, mas passam a habitar em nós uma vez que participamos no Todo, segundo esta linha de pensamento). Toda a simbologia anteriormente estabelecida passa a ser filtrada por uma espécie de psicologia do mito. Essas matérias – que não eram propriamente dogmáticas, não se confunda tudo isto – acabam a sofrer a influência de relativismos, e estão abertas a todo o tipo de opiniões, consequentemente entregues à manipulação de acordo com patamares de conveniência. Algo possível de entender, recorrendo à Literatura, como a concretização do processo Fáustico: o triunfo da vontade humana, a radicalização da ideia de um “Eu” já presente na Filosofia Patrística, mas que hoje se vê cultuado e pronto a atingir o seu auge.
Perante estes jogos tendenciosos de força e degeneração, alguns, entre nós, insurgem-se contra a vulgaridade da época, posicionando-se: “Etiamsi omnes, ego non” (ainda que todos, eu não). ■

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