Há poucas semanas, a Gazeta das Caldas publicou um trabalho de pesquisa acerca dos equipamentos desportivos do nosso concelho, em avançado estado de degradação, desativados, sem utilização, alguns dos quais nunca chegaram mesmo a ser utilizados. Falava o levantamento em causa, de campos de futebol, polidesportivos, equipamentos para a prática desportiva de uma forma geral. Mas este não é um exclusivo do nosso concelho. Foi assim por todo o país, sem ter em conta índices de racionalidade de utilização e rentabilização. Nem foi apenas relativa a este tipo de equipamentos e assistimos a várias fases. Podemos falar em piscinas, equipamentos culturais, pavilhões de exposições e até às chamadas “zonas industriais”, “centros de negócios”, “parques industriais”, “parques tecnológicos”, etc…. Não foram tidas em conta as necessidades reais, mas apenas porque era uma moda, ou simplesmente porque o concelho vizinho tinha e então o do lado tinha que ter também. A principal razão era claramente eleitoralista, em momentos em que o crédito às autarquias era fácil, ou os financiamentos comunitários, de forma enganadora, a isso conduziram.
As vistas curtas, nunca deixaram raciocinar para além do ato de construir, na ânsia de apresentar uma qualquer obra para inaugurar, de preferência, em época eleitoral. Os custos de manutenção dos equipamentos em causa, eram uma questão inexistente, ou secundária, por uma lógica segundo a qual “quem vier atrás, que feche a porta”. E agora, chegou o momento do tal “fecho de porta” e fecham mesmo.
São inúmeras as instalações que estão encerradas e continuam a encerrar, pelo país fora. Porque não há de facto quem lhes dê uso, ou porque não há recursos para os manter em funcionamento. Foi o tempo do esbanjamento e foi assim nas autarquias e no governo da nação. E agora?
O dinheiro fácil deixou de existir e fruto de uma gestão calamitosa, ou mesmo criminosa, muitas autarquias estão tecnicamente falidas, algumas mesmo falidas e as que ainda não estão em dificuldades, teimam em não perceber que tudo mudou e continuam a gerir mal, como se nada tivesse acontecido, caminhando alegremente rumo ao abismo.
Agora o paradigma mudou. Mudou e nada mais pode ser como antes. Os investimentos têm forçosamente que ser canalizados para o incentivo à economia reprodutiva, geradora de riqueza e emprego.
O governo percebeu isto e mudou o rumo da economia. E os municípios, perceberam?
O modelo teimosamente vigente, segundo o qual, todos os municípios querem ter tudo, tem que acabar.
A filosofia subjacente à gestão autárquica, tem que mudar urgentemente e deve assentar numa perspetiva de dimensão territorial, com um uso parcimonioso e economicamente sustentável, dos escassos recursos ainda disponíveis.
Caldas da Rainha, está a tempo de inverter o atual estado de coisas e deve abandonar uma lógica subsidiária, direcionando todos os seus recursos, para investimentos cuja rentabilidade não deixe margem para dúvidas.
Regenerar a chamada “zona industrial”, caduca e urbanisticamente caótica, adaptando-a a um “parque de negócios” moderno e apelativo, há muito que é urgente. Mas deixamos andar.
Dotar o centro da cidade, de condições ideais para dinamização do comércio, é uma necessidade evidente. Deixámos escapar uma oportunidade, esperemos que seja aproveitada a ultima que nos resta, com a concretização das ARU(s).
Definir uma estratégia de captação de investimentos, é a nova dimensão de gestão autárquica moderna e criativa.
Perceber urgentemente, o que queremos da água termal e do termalismo, de facto o principal recurso da cidade, do concelho e da região, não é urgente, é imperioso.
Estas, podem ser as molas impulsionadoras do desenvolvimento sustentável do concelho. Se quisermos perceber, enquanto estamos a tempo de perceber e se deixarmos de nos entreter com questões de “lana-caprina”, para as quais deixou de haver tempo e dinheiro.
Rui Gonçalves
rgarquito@sapo.pt