A 27 de Setembro decorreu em Caldas da Rainha a corrida da Pêra Rocha, patrocinada pela associação de produtores, desfilando a confraria pela cidade. Tarde cinzenta e fria alegrada por momentos de bom toureio. Praça composta, meia casa forte bem espalhada. Corrida aliciante a merecer mais público. A imposição de um grupo de forcados que não tem a ver com a região e a ostracização do grupo local terão desmotivado alguns.
A cavalo lidaram-se toiros de Charrua nobres e colaborantes, díspares no tamanho, pelagem e comportamentos. O ganadero deu volta, a meu ver exagerada. João Telles esteve bem toda a tarde, lidando a gosto, bregando com conhecimento e espetáculo, particularmente no segundo ladeando. Correto nos compridos, construiu três lides em crescendo com ferros meritórios. No primeiro, um pouco andarilho, fixou-o e foi de frente com a velocidade adequada. No segundo alternou ferros de frente com ligeiras batidas ao piton contrário, concluindo com dois violinos seguidos de curtos à meia volta. No terceiro foi colhido, caiu e voltou com garra em valorosos ferros frontais ou de ligeiro câmbio, terminando com palmito.
O Grupo de Forcados de Alenquer esteve coeso e correto, frente a toiros nobres e suaves, apesar de não encostar bem às tábuas. Jaime Bento pegou, bem ajudado, um toiro que foi sem bater nem empurrar. Diogo Trindade pegou, bem ajudado, apesar de ter adiantado as mãos, um toiro nobre e suave. André Laranjinha na pega da tarde fechou-se bem num toiro que investiu alto e deu alguns derrotes, ajudado eficazmente. Deu volta também o primeiro ajuda.
Pedrito de Portugal mostrou o seu toureio conhecedor e esteticamente bom, mas frio, por vezes desconfiado e muito racional. Sobrou a estética, faltou a emoção, o abrir mais o compasso e encimar-se transmitindo ao público. Bem com o capote, baixou a mão com temple, bonito e variado, espetacular de joelhos no segundo, mas em intervenções curtas. Bandarilhou bem a quadrilha por José Ferreira, Joaquim Oliveira, Pedro Gonçalves e Cláudio Miguel. Pedro Vicente tomou a alternativa de bandarilheiro. De muleta construiu boas faenas abreviando a terceira. O primeiro toiro Torre de Onofre, de menor trapio, foi nobre e o matador esteve a gosto em faena bonita e variada por ambos os pitons, baseada na mão direita, incluindo desplantes. Ficou a sensação de que o toiro dava mais. O segundo de Núñez Suñer era áspero, procurava o toureio e ainda o desarmou mas com técnica e conhecimento o diestro esteve por cima. Faena valorosa com ambas as mãos e alguma profundidade, de plástica irrepreensível. O terceiro da mesma ganadaria era grande e intratável, com córnea imponente, colheu os bandarilheiros e impôs respeito pelo que o matador abreviou a lide não havendo muito a fazer. Deixou alguns muletazos valorosos porfiando bastante para alegrar o público.
Abrilhantou bem a Banda Comércio e Indústria das Caldas da Rainha e dirigiu sóbrio Francisco Calado.
Rui Lopes