Vinte e cinco anos depois do primeiro livro («Sandálias do Tempo»), Isabel Aguiar surge com este «Eu amo Tarkovski» dedicado ao cineasta (Andrei) e não ao poeta (Arseni) embora se trate de um conjunto de poemas. Talvez não por acaso o livro que Andrei Tarkovski (1932-1986) deixou publicado em inglês intitula-se «Sculpting in Time». De facto a natureza da sua estética é uma estética da Natureza. Filmes como «Stalker», «Nostalgia» ou «Sacrifício», demonstram (como bem assinala Paulo da Costa Domingos em «A morte dos outros») que só o escritor Marcel Proust se pode comparar ao cineasta Andrei Tarkovski pois ambos procuram o que se pode chamar o tempo absoluto.
O que este livro nos revela são poemas breves, concisos, sintéticos, capazes de perguntar («Como será a infância do poeta?») mas também de afirmar «Já sabeis de nós num tempo posterior a nós escrevendo» ou então «A poesia tem de deixar esfacelado quem lê».
O poema oscila entre a Natureza e a Cultura. Vejamos primeiro a Natureza: «Vêm os gansos numa correria» / «As primeiras chuvas caem». Depois a Cultura: «Em teclado negro o piano enobrece» / «Relembra os pedais do piano». Num mundo onde tudo é diferente, há coisas que permanecem iguais, situações que se repetem no mundo vegetal e no mundo animal: «E dão uvas as videiras» / «Entendem-se os estorninhos uns com os outros».
Um dos poemas finais surge como metáfora da vida e do futuro, ao juntar a água e a criança: «A água alaga o campo do filme / com uma criança a olhar o céu».
(Editora: Licorne, Paginação: Egora Lda)