É um tema recorrente, simplesmente porque a mudança é inerente à vida. Não há vida, humana ou outra, sem mudança. Nasce-se, evolui-se, entra-se em declínio e, a prazo, morre-se, cumprindo-se um ciclo de vida inexorável, cujo valor reside na contribuição dada à espécie, incluindo o do exemplo de capacidades e virtudes individuais que testam os limites conhecidos, e de excepcionais resultados colectivos alcançados por inesperadas ou deliberadas dinâmicas de grupo. No mundo global e mediático em que vivemos, todos os dias conhecemos novos exemplos de pessoas, grupos e sociedades que se superam, em múltiplos domínios da vida humana. Não faltam, assim, referências para que cada um de nós faça as opções que, em consciência, entende serem as melhores para si próprio e os outros.
Na sua obra “A Vida Imita o Xadrez” o ex-campeão do mundo Garry Kasparov afirma que é essencial termos objectivos de longo prazo e um plano para os alcançar, desafiando permanentemente as suposições dominantes com uma simples pergunta: “Porquê?”. A mudança decorre, então, da avaliação racional, temperada de intuição, de que as vantagens e benefícios de mudar são superiores às inevitáveis desvantagens ou prejuízos, não sendo aceitável que se mude ou deixe de mudar por motivos irracionais, de resignação ou de baixo autocontrolo. Por outro lado, diz o maior xadrezista de todos os tempos que não basta ter talento e trabalhar-se arduamente, precisamos também de nos aperceber intimamente dos métodos que utilizamos para tomarmos as nossas decisões, sendo essa consciência fundamental para conseguirmos combinar os nossos conhecimentos, experiência e talento, de forma a obtermos o máximo rendimento.
O Papa João Paulo II, Karol Wojtyla, deu a todos os crentes e não-crentes uma lição de vida quando os exortou a não terem medo e a abrirem os seus corações. “Não tenhais medo!” ficou, assim, gravado na memória de todos como símbolo de um pontificado corajoso, humanista e profundamente espiritual, que inspira as actuais gerações. No momento em que Portugal e os portugueses passam por dificuldades e desafios extraordinários, originados pela falência dos modelos políticos, económicos e sociais que prevaleceram nas últimas décadas, e pelo aproveitamento oportunista de uma personalidade desviante a quem a História jamais perdoará, importa perguntar “Porquê?”, pôr em causa e mudar o que for preciso. Como? Assumindo uma atitude racional e corajosa, definindo objectivos claros de médio e longo prazo, reflectindo sobre os critérios e métodos de decisão, e impondo democraticamente a vontade da maioria aos grupos de interesses que se apropriaram do poder do Estado para satisfazerem os seus interesses particulares, em detrimento dos interesses, actuais e futuros, de Portugal e dos portugueses.