Em busca de uma utopia perdida

0
741
- publicidade -

Uma “feira” necessária, com problemas de acertos, de organização, de informação, uma Folio a precisar de crescer em densidade e como espaço de afirmação de alguns livros, de alguns autores, de algumas editoras, e de outros e outras sobretudo. Que irá melhorando, apreendendo com os erros e libertando-se do ‘curto-prazismo’ e das “grandes editoras” e grandes ou muitas vezes supostamente grandes chapéus do politicamente correcto.
Bem sei que é a pescadinha de rabo na boca, mas por algum lado se tem que começar a dar voz a outras realidades e outros discursos, além desses, destes.
Estive em várias conversas agradáveis e recolhi impressões sobre muitas outras. O tema desta Folio era muito, muito arriscado. A Utopia é a base de todos os totalitarismos, mesmo na tal ilha de Thomas More (prefiro a do Sancho Pança!), e muitas vezes é a sua esperança…
Fui quase (retoricamente) linchado por me atrever a criticar um livro abjecto, de um personagem abjecto (não era o Mein Kampf, mas foi escrito por um psicopata da mesma estirpe, e a merecer tribunal, aliás já lá está, porque ofensa é crime) e também, nesse âmbito por referir o absurdo do estribilho ‘é proibido proibir’ e mencionar que se tinha que colocar limites a tal.
Noutra tertúlia tive que desmentir uma discursata contra as renováveis, por pessoa que manifestamente falou sobre essas por ouvir dizer, e tive que dizer que era tudo ao contrário dessa voz de ‘poder’. E ainda tive que lembrar que se a utopia se realizasse, a maioria dos presentes, portadores de óculos… seria… sabão… Como no Camboja do marxista-leninista Pol Pot.
Felizmente não estamos no império do Maio de 68, que só por brincadeira universitária, só mesmo por brincadeira ou diletantismo académico, se pode comparar ao 25 de Abril!
“Erros meus, má fortuna, amor ardente” é a minha melhor definição para este Folio. Erros a corrigir, azares ou imprevidências a evitar, e um amor ardente que não pode ser só financeiro ou por grandes títulos, mas deve ser intrínseco aos “livramores”, que independentemente do tempo e do espaço continuam a cruzar livrarias de referência, onde há cultura e verdadeiros livreiros, continuam nesse tempo e nesse espaço a viver as suas estações de chuva ou sem ela e a inventar passados para construir futuros, imperfeitos! de preferência.
Que corrigindo estes aspectos os amantes da palavra real e não ficcionada em utopia possam encontrar 10, 100, 1000 Folios que cresçam e se desenvolvam em criatividade e imperfeição.
Óbidos merece as muitas valências, nichos de que se dotou, todas em busca do seu nirvana, que só as utopias irrealizáveis atingem. Este Folio não é o festival medieval ou do chocolate, o público que aqui vem é o dos livros, é o destes bicharocos. E salvo uma ou outra “pop star” que provoca histeria, que também surge neste entorno, não se vê gente aos encontrões e nalguns momentos Óbidos parece ser Óbidos.
Mas, há sempre um, alguns mas há também elementos a corrigir ou isto, o Folio comer-se-à a si mesmo. Tem que haver, alguma, interacção com a população local e sobretudo com o comércio local, muito marginalizado. Se o Folio não for assumido em Óbidos, por Óbidos, será uma excrescência, que poderia ser noutro local qualquer. Tem que ser único e por isso embeber-se de ginja…
E também, julgo que é necessário que o Folio se articule, crie extensões noutros pontos da Região Oeste, se articule com Caldas, Bombarral, Alcobaça, Peniche, etc., os as muralhas de Óbidos serão o seu cerco que o impedirão de ver novos horizontes, e os livros são, devem ser sobretudo movimento de palavras, a meditar ou perseguir-se.
António Eloy

- publicidade -