Chocolate

0
1059
- publicidade -
Gazeta das Caldas
| D.R.

Era uma vez uma menina que ouviu contar a história da casinha de chocolate.
Ficou com a cabeça cheia de tumultuosos pensamentos.
Qual seria o tamanho da casinha? Pequenina? Podia comer-se de uma dentada. Enorme? Podia alguém passear lá dentro? Como? Os sapatos ficariam com certeza todos pegajosos e o chocolate ficaria todo sujo.
Se a casa de chocolate existisses mesmo, seria habitada? Talvez pudesse ser uma casa para os LEGOS, embora depois os engraçados bonecos ficassem todos lambuzados.
E quem poderia deitar-se numa cama de chocolate? A menina começou a rir-se para dentro de si mesma a imaginar lençóis de renda feitos com açúcar mascavado, uma toalha de mesa feita com folhas de alface e pratos de folhas de bananeira.
Lareira? Salamandra? E o chocolate todo a derreter e a casa a cair, os bombeiros a chegarem com mangueiras cheias de leite gelado!
Esta história da casinha de chocolate estava muito mal contada.
Seria quando muito uma casinha feita de lama e pequenos troncos entrelaçados como ela vira serem feitas habitações em países muito quentes, onde a lama endurecia rápido e fazia paredes sólidas. O teto era feito de grandes folhas de palmeira trançadas.
E aí, já era uma casa muito engraçada. Nela podia viver gente e não bruxas más que não existem.
Quer dizer, há pessoas más, mas não são bruxas. São pessoas que nunca fazem nada de bom pelos outros.
Nesta versão de casa que já lhe enchia a imaginação, podia haver dentro meninos e meninas, famílias ou até mesmo uma escola.
A fantasia e o sonho a fervilharem , e já ela via crianças felizes no pátio da escola a brincar.
E a professora, comovida a limpar os óculos e a disfarçar uma lágrima de gratidão por ter alunos felizes.
E uma mãe, na entrada, vinha buscar o filho, tão orgulhosa de ele já saber desenhar a letra A.
E a bela da horta que os aldeões iam sachar e semear para a cantina da escola poder dar refeições quentinhas, cozinhadas no fogão da grande sala de convívio.
Sentada, absorta, concentrada, a menina sonhava e construia um futuro, onde afinal não havia nenhum chocolate, mas onde os pais das crianças podiam ter confiança no barro com que trabalhavam as paredes das suas casas.
E ao fim do dia podiam descer ao rio e lavar as mãos calosas e cansadas. Podiam até lavar a roupa suja de lama e muito remendada.
Lá em cima, a escola brilhava. Uma escola muito animada!
E uma menina sorria.

blamas599@gmail.com

- publicidade -