Patrícia Oliveira
Técnica Superior: Ministério da Educação
Pós-Graduada em Saúde Mental Escolar – ISPA
Chamam-lhes a geração Z, nativos digitais, que já não vivem sem a tecnologia. Nascem a saber mexer num telemóvel e ficam “hipnotizados” com jogos e vídeos no tablet. Crianças que vêm para mudar o mundo e que são mais curiosas, intuitivas e digitais.
A importância de brincar está consagrada no sétimo dos dez princípios dos Direitos das Crianças, declarados, em 1959, pela Organização das Nações Unidas (ONU): “o direito à educação gratuita e ao lazer infantil”. «Brincar é um direito inegável, independentemente do lugar do mundo e das circunstâncias em que vivamos». É um direito, uma mais-valia, uma aprendizagem e uma oportunidade para formar – ou estreitar – laços. No entanto, as crianças brincam cada vez menos e as consequências começam a notar-se. A este propósito, Carlos Neto, professor e investigador da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Nova de Lisboa, existe claramente um problema para resolver.
«Uma criança hoje passa, em média, cerca de 45 a 50 horas na escola, das quais 35 sentadas. Em casa, estão no sofá sem poder explorar, descobrir, correr. 70% das crianças portuguesas brinca menos de uma hora por dia. Não temos harmonização entre o tempo passado a trabalhar, na escola e na família. A médio e longo prazo vamos ter problemas sérios de saúde pública relacionados com depressão e ansiedade.»
«O brincar não se ensina, o brincar vive-se. As crianças precisam de tempo livre. Este é um direito fundamental para o seu desenvolvimento», diz Carlos Neto. A média de tempo útil dos pais para brincar com os filhos são 27 minutos por dias apenas.
De acordo com os autores do estudo “The Power of Play”, publicado na revista Pediatrics, brincar promove as “capacidades socioemocionais, cognitivas, de linguagem e de autorregulação que constroem a função executiva e um cérebro pró-social”.
Enquanto brinca, a criança não está apenas a divertir-se, ela está também a melhorar a sua estrutura e a função do cérebro, assim como a promover a função executiva (o processo de aprendizagem), que permite perseguir objetos e ignorar distrações. No mesmo estudo, os autores referem que as crianças humanas nascem imaturas, quando comparadas com outras espécies. Só após o nascimento é que ocorre um desenvolvimento cerebral maior. Tal faz com que as crianças sejam totalmente dependentes dos pais para regular os ritmos de sono-vigília, alimentação e outras interações sociais. Mas ao brincar, a criança cria mais facilmente independência e autorregulação. Para além disso o brincar estimula a criatividade e a imaginação, estimula a atenção, promove a interação social, melhora a saúde mental, ensina a incorporar regras e desenvolve o raciocínio.■