Crónica do Québec (Canadá)

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Estejamos nas Caldas, noutra qualquer cidade portuguesa, canadiana, ou do mais pobre dos pobres países da África sub-sahariana, todos temos actualmente de conviver com um novo tipo de «arte» urbana. Estamos obviamente a referir-nos aos horrorosos riscos, que a partir de determinada altura começaram lentamente a invadir os muros, portas e portões dos edifícios públicos e privados da generalidade dos nossos aglomerados populacionais. Artistas falhados,  puros vândalos, ou apenas jovens irreverentes, dão asas à sua (falta de) criatividade, normalmente a horas em que todos aqueles a quem se convencionou apelidar de normais, dormem o sono dos justos.
Em Montreal, cidade onde se podem também observar autênticas obras de arte mural, a exemplo da foto que publicamos, as autoridades municipais há muito que definiram locais onde os graffitis podem livremente ser produzidos. No entanto, tal não impede que por todo o lado se possam igualmente observar muros e portões, para os quais toda a boa vontade dos proprietários ou das autoridades, se manifestam  impotentes perante a profícua actividade dos amantes dos horrendos rascunhos. No edifício em que está situado o escritório onde exercemos a nossa actividade profissional, existe uma garagem dupla, cujos portões, por norma, não ficam limpos mais do que alguns dias. Inicialmente, as autoridades municipais pediam aos proprietários para repintarem as suas propriedades. Medida ineficaz, tal a rapidez com que as linhas multicolores voltavam ao local, entretanto limpo. Neste momento, Montreal dotou-se duma equipa, cuja única função é percorrer as ruas da cidade, marcando presença nos locais mais apetecíveis para os «artistas» e, dependendo da estrutura vandalizada, repintam ou limpam os graffitis, o mais rapidamente possível.
Na nossa relativamente pequena cidade de Longueuil, aquando da recente inauguração dum fresco, realizado por um grupo de jovens num dos parques da mesma, as autoridades municipais  divulgaram as linhas mestras dum ambicioso plano de acção, no sentido de combater os graffitis ilegais, e favorizar a emergência duma verdadeira arte urbana. O plano priveligia a prevenção e a sensibilização. Passa pela definição e instalação de murais legais, pela publicação de informação direccionada ao público através de folhetos, brochuras e comunicados de imprensa. Simultâneamente procurará reduzir as ocasiões propícias aos actos de vandalismo, especialmente através do favorecimento da realização de frescos legais, e da vigilância acrescida dos locais mais problemáticos, passando pela concessão de poderes mais amplos às autoridades policiais da nossa cidade, e pela criação dum número de telefone exclusivamente dedicado ao problema e através do qual, o cidadão anónimo pode denunciar a existência ou a autoria de graffitis ilegais.
No pequeno bairro de Greenfield Park pertencente ao aglomerado de Longueuil, um recém criado grupo cidadãos, denominado CAG (cidadãos anti-graffiti) tomou a iniciativa de fazer desaparecer os graffitis das paredes dos comércios e edifícios do bairro. Um dos membros, do pequeno grupo de cerca de uma dezena de pessoas, declarou que têm por missão, eliminar todos os graffitis, face à incapacidade das autoridades. Ocupar-se-ão no entanto unicamente das propriedades privadas, pois apenas os empregados municipais estão autorizados a actuar nos espaços públicos. Os membros do CAG identificam os locais mais problemáticos, e  antes de avançarem para a limpeza do mesmo, solicitam a devida autorização do proprietário, que deverá assinar um documemto, que iliba de toda e qualquer responsabilidade os autores da limpeza, pelos prejuizos eventualmente resultantes da operação de regeneração urbana. O grupo utiliza produtos especiais importados dos Estados Unidos, e uma máquina de limpeza a alta pressão que lhes foi graciosamente oferecida por um comerciante da zona. Segundo os membros deste grupo de limpeza, a melhor forma de dissuadir os autores dos graffitis,  passa pela eliminação imediata dos mesmos, logo após a pintura.
Segundo os elementos da polícia do aglomerado de Longueuil, os jovens que fazem graffitis, não estão muitas vezes informados de que o seu passatempo favorito é uma actividade ilegal, e expôem-se a pesadas multas, podendo em casos extremos, ficar sujeitos a acusações criminais, apesar de no nosso códido criminal não existir nenhum artigo que vise especificamente os autores de graffitis ilegais. Todos os que são apanhados em flagrante delito, são acusados de causar danos a terceiros, e são julgados pela privação de  usufruto dum bem pertencente a outrem, ficando a partir daí com o registo criminal manchado.
Também já fomos jovens, e por isso sabemos quanto normalmente, a juventude gosta de actuar nos limites do risco e da legalidade. Mas considerando as medidas que a sociedade começa paulatinamente a implementar, para fazer face à praga dos graffitis ilegais, cremos ter chegado o momento de se ter de pensar duas vezes, antes de, pelo simples prazer de actuar, danificarmos a propriedade alheia.

J.L. Reboleira Alexandre

jose.alexandre@videotron.ca

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