Crónica do Québec (Canadá) – A «migração» para a Flórida

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À medida que  o Inverno se vai paulatinamente instalando, milhares de quebequenses, quais aves migratórias, vão-se preparando para a grande viagem em busca de climas mais quentes. Mencionei noutra crónica a frequência regular com que partimos durante uma ou duas semanas para as praias quentes das Caraíbas, sobretudo enquanto estamos no mercado de trabalho. Normalmente as pessoas optam, na medida das suas possibilidades, por partir mais vezes por periodos curtos do que apenas uma vez por um longo período. A grande maioria parte por sete dias.
O grande estado americano de cerca de dezoito milhões de habitantes, com uma superficie e um PIB  maior, que a maioria dos países da Europa, recebe no entanto outro tipo de turistas canadianos. Trata-se aqui, de uma população com algum desafogo financeiro, e maioritariamente em situação de reforma. Uns fazem-se à estrada para devorar os cerca de 2500 quilómetros que separam a cidade de Montreal da capital económica do Sunshine State (Estado onde o Sol brilha) numa condução cuidada, que não tem qualquer relação com o que estamos habituados nas estradas de Portugal ou noutros países do Sul da Europa, e durante a qual pernoitam normalmente apenas uma noite pelo caminho. No que me concerne perfiro fazê-lo com duas pernoitas, mas a primeira opção é a escolhida pela maioria. Fazem a viagem no carro familiar e uma vez chegados instalam-se no condomínio ou na residência de que são proprietários.
Outros há, que não possuindo casa própria, e sendo proprietários duma roulote motorizada optam por este tipo de alojamento que tem a vantagem de permitir uma maior liberdade no destino. Outros há igualmente, que pagam a companhias especializadas que lhes transportam a viatura pessoal para o Sul e de regresso a casa, e preferem fazer a viagem de avião. Trata-se evidentemente de uma camada da população com enormes disponibilidades económicas. Uma outra parte que faz igualmente a viagem de avião, opta por alugar uma viatura nos Estados Unidos, ou abdicar do uso de carro durante alguns meses.
Os que são unilingues em francês, procuram zonas na área de Miami onde poderão encontrar praticamente todos os serviços na língua de Molière.
Para além das praias maravilhosas, a Flórida é ainda o Cape Canaveral onde podemos assistir à partida das naves espaciais da NASA, o célebre parque temático de Disney World na zona de Orlando,  os pequenos povoados que guardam as características que os colonizadores espanhóis foram encontrar no século XVI, ou, e sobretudo, a maravilhosa cidade de Miami. Esta cidade só por si, justifica uma visita pelo seu carácter multi-cultural e multi-linguistíco. A zona portuária onde costantemente estão acostados os maiores e mais luxuosos navios de cruzeiros e para aqueles que são mais sensíveis à arquitectura urbana, o bairro de Art Deco dos anos 20 e 30. Pequena zona da cidade, onde os palácios renascentistas de estilo neo-mediterrânico guardam as linhas da construção original, situados à beira-mar, numa zona de praias seguras e tranquilas onde existem variadíssimos cafés e restaurantes capazes de satisfazerem todos os tipos de bolsas e sabores, é na nossa modesta opinião a área mais bela da cidade. Os nossos irmãos brasileiros costumam dizer que ir a Miami e não passear descontraídamente na Ocean Drive é como ir a Copacabana e não deambular na Avenida Atlântica, pese embora, o risco inerente a esta última actividade a partir de determinadas horas, como o pudemos constatar pessoalmente há já alguns anos, numa daquelas saídas noturnas que só se fazem até determinada idade.
Muitos destes quebequenses que passam longos meses na zona, além de intermináveis passeios de carro por entre as vilas e palácios dos ricos e poderosos com barco à porta de casa, aproveitam por vezes, apesar da distância, para uma rápida incursão no Estado da Luisiana, que tem como capital política a cidade de  Baton Rouge e que Napoleão Bonaparte vendeu aos Estados Unidos em 1800. Guarda ainda características típicamente gaulesas, sobretudo na cidade mais conhecida e cosmopolita, a famosa Nova Orleâes (New Orleans) com os seus músicos de rua e animação permanente. Muitos dos que ainda hoje ali falam francês são descendentes dos  Acadiens, canadianos que habitavam nas províncias de Nova Escócia e Ilhas do Príncipe Eduardo na costa atlântica do Canadá,  e que foram expulsos pelos Ingleses depois da conquista. Habitam hoje na região apelidada Acadiana.
Normalmente com o fim do Inverno fazem o caminho inverso e voltam ao Norte, numa rotina que nos leva a apelidá-los de «snowbirds», por passarem todos os Invernos na área costeira do Sunshine State  situada entre as cidades de West Palm Beach e Miami.

J.L. Reboleira Alexandre
jose.alexandre@videotron.ca

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