Já aqui foquei a origem latina dos primeiros colonizadores do Québec, que se repercutiu na forma como as cidades mais importantes da provincia, Québec e Montreal, se desenvolveram. A primeira, capital política da nação quebequense, trata-se na realidade de um pedaço da velha Europa que atravessou o grande oceano e se estabeleceu na margem norte do rio São Lourenço, que ao contrário de Montreal, possui duas grandes áreas.
A zona ribeirinha do porto fluvial e a parte alta cuja imagem mais conhecida é a zona do velho forte e o hotel mais fotografado do planeta, o famoso e relativamente caro, Chateau-Frontenac, que data de 1893. Toda a área envolvente deste palace de cinco estrelas merece uma visita. Dos morros vizinhos obtém-se uma vista espectacular do porto e da imponência do rio, que no local tem praticamente a largura do estuário do Tejo em Lisboa, como da vizinha cidade na margem sul, Lévis. Sempre que me desloco ao local, revejo-me no pequeno jardim (caso para dizer: tudo é mais pequeno aí) de Santa Catarina em Lisboa , com as suas vistas sobre o Tejo e da margem sul. Os quatro anos passados entre o Largo de São Paulo, e as diárias subidas e descidas da íngreme Calçada do Combro, para a zona do Largo de Camões deixaram marcas indeléveis que nem os anos apagaram.
Montreal, a capital económica, e até há pouco tempo maior cidade canadiana, apesar de manter o carácter latino na forma como os seus habitantes reagem e se comportam no dia a dia é no entanto mais cosmopolita e ocupa um espaço geográfico muito superior para albergar os seus cerca de 2 milhões de habitantes. Se considerarmos toda a área que a circunda estes valores sobem para 4 milhões, praticamente metade da população da província. É na realidade uma ilha, muito plana, que tem como característica principal o facto de, mais ou menos no centro ter o monte que lhe deu origem ao nome, o Mont Royal. Pequena montanha de cerca de 234 metros de altura, com variadísssimos miradouros de onde podemos observar toda a cidade. O mais frequentado é o que fica defronte do famoso estádio olímpico. Toda esta área verde está interdita a novas construções, e como consequência as velhas residências que aí se encontram, valem verdadeiras fortunas. Como me dizia um amigo, há alguns anos: nunca vira tanta e tão belas casas em tão pequeno espaço. No parque, entre relva, muitas árvores e um lago, os esquilos e as raposas coabitam com os humanos.
Hoje, no entanto, a grande metrópole canadiana é indubitavelmente a cidade de Toronto que com os seus cerca de 5 milhões de habitantes em toda a área metropolitana alberga praticamente 75% de toda a população da província de Ontário, ainda hoje menos populosa que Québec. Se exceptuarmos o período compreendido entre Dezembro e Março, de pleno e rigoroso Inverno, o meio de transporte que preferimos para ligar as duas grandes cidades é a viatura, que em cerca de seis horas de viagem atenta e cuidada numa das mais ocupadas auto-estradas da América do Norte, a famosa 401, nos permite percorrer, a velocidades constantes como se usa em todo o continente (não se vê aqui o louco do Ferrari, e não só, a 180 ou o demasiado lento no seu velho Punto a 80) os cerca de 550 Kms entre os dois maiores aglomerados habitacionais do Canadá. A saída ou entrada na metrópole quebequense faz-se relativamente bem, em vias que normalmente não vão além das quatro ou cinco faixas de rodagem para cada lado. Quando nos aproximamos da capital do Ontário e durante longos quilómetros, sobretudo a partir da pequena cidade de Oshawa, até há bem pouco tempo local onde a General Motors dava emprego a inúmeros portugueses na produção de grande parte dos seus modelos, sentimo-nos engolidos, passe o exagero, pela imensidão de Toronto. A pouco e pouco, e quase sem darmos por isso, vemos a via passar das duas faixas de rodagem por onde viemos durante várias horas, para um máximo de oito filas de viaturas para cada lado, que entram e saem num fluxo ininterrupto de sons e movimento, com os arranha-céus da cidade a ficarem constantemente no retrovisor. É esta grandiosidade da cidade aliás, que deu origem à pequena provocação que todos os quebeqenses gostam de fazer aos habitantes de Toronto : a única coisa boa que lá há é a auto-estrada 401…que nos liga ao Québec. É claro que tal não é verdade e falarei disso numa próxima crónica.
J.L. Reboleira Alexandre
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