Crónica do Québec (Canadá) – Os frios extremos

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notícias das CaldasPela sua situação geográfica, Montreal é de todos os grandes aglomerados habitacionais o que está sujeito a maiores amplitudes térmicas. Estando situada numa zona temperada continental, temos Verões quentes e húmidos e Invernos frios e secos, com abundante queda de neve. Normalmente durante os períodos de temperaturas mais baixas entre a época de Natal e meados de Fevereiro suportamos regularmente duas a três fases de frios extremos.
No momento em que escrevemos esta crónica, na noite de 22 de Janeiro último, estamos a entrar num desses periodos que duram alguns dias, normalmente não mais de três, do que poderemos considerar de frios muito intensos. A temperatura durante a noite desce a cerca de menos 30 graus centígrados e durante o dia, normalmente com muito Sol, não vai ultrapassar os menos 20 graus.   No entanto a actividade económica continua no seu ritmo habitual, e a única diferença que se nota no exterior é que tudo se faz ainda um pouco mais depressa do que em dias normais. As crianças vão em corrida para o autocarro que as levará para a escola, os ciclistas, dos quais nem os olhos se vêem, na impossibilidade de usar as várias ciclovias obstruídas pela neve, partilham a estrada com os automobilistas, e os trabalhadores da construção, justificam nesta altura do ano os altos salários que recompensam o seu trabalho.
Nos escritórios instalados em edifícios mais antigos, os funcionários são relembrados de que não devem baixar as temperaturas dos respectivos locais, e nas nossas casas a temperatura ambiente mantém-se nos 22 graus positivos. Residentes há que, por precaução mantêm as torneiras de água fria abertas, evitando assim, com um pequeno fio de água corrente, o congelamento e consequente rebentamento dos canos de alimentação, com a água estacionada nos mesmos. Devo dizer que passar por esta situação, é tudo menos agradável.
Ao contrário de Portugal, onde  a maioria da população habita em casa própria, no Canadá devido à existência dum mercado de arrendamento funcional em termos de mercado, cerca de metade da população das áreas urbanas opta por viver em casas alugadas. Nos prédios mais modernos aquecidos pela electricidade que nos é fornecida a preços muito económicos, por uma empresa que é monopólio estatal da província, os ocupantes dos espaços são responsáveis pelo pagamento da factura de aquecimento, que num apartamento tipo T2 ou T3, pode rondar os cerca de mil e quinhentos dólares anuais incluindo as despesas de iluminação e de funcionamento dos diversos electro-domésticos. Normalmente os investidores no mercado de habitação optam por adquirir este tipo de imóveis, apesar de terem um custo inicial mais elevado. Ao contrário, os  edifícios mais antigos, são aquecidos com óleo de aquecimento, que neste momento e devido aos altos custos do petróleo, tornam as despesas de exploração deste tipo de imóveis extraordinariamente onerosas. Uma vez que o aquecimento central não pode ser imputado a uma parcela individual do prédio, é o proprietário que absorve a factura do aquecimento total, mediante um pequeno aumento na renda mensal. No entanto, como o rendeiro do local não é o responsável pelo pagamento da respectiva factura de aquecimento, as pessoas, e numa atitude de algum egoísmo, mantêm as casas a temperaturas acima do necessário, e é normal observar-se em dias de frio extremo pessoas passearem-se no interior das suas habitações de calções e em tronco nu.
É também nestes dias que as nossas viaturas são postas à prova de  manhã, pois ao accionarmos a chave de ignição, as mecânicas apenas responderão de forma satisfatória se estiverem em perfeitas condições. Depois de deixarmos o motor rodar durante cerca de um minuto, fazemo-nos  lentamente à estrada pois os primeiros metros são feitos aos solavancos devido ao facto do ar, no interior dos pneus estar igualmente congelado.  Ainda nestes dias, e apesar de todos sermos obrigados por lei a usar pneus especiais até meados de Março, o tráfego rola mais lentamente que nos outros dias, devido à falta de aderência à estrada.
Infelizmente também, nestas noites, e apesar de todos os centros de acolhimento estarem abertos 24 horas por dia, muitos dos sem abrigo da cidade, optam por dormir no exterior, e são recolhidos já cadáver, na manhã seguinte. No momento em que terminamos mais esta crónica, a temperatura no exterior é já de menos 21, amanhã Domingo dia 23 de Janeiro, a máxima prevista é de menos 19 e a mínima de menos 27, e na Segunda-Feira, dia de trabalho, a máxima será de menos 19 e a mínima de menos 22. Depois, na Terça-Feira volta tudo ao normal, com uns muito agradáveis menos 10 graus centígrados. Felizmente não está vento, mas depois de cerca de trinta e cinco anos vividos nestas paragens, continuamos a detestar este tipo de temperaturas exactamente como no primeiro dia em que as sentimos, no já distante mês de Janeiro de 1976. E como nós, a grande maioria da população desta terra, não só, os que de fora chegaram, como os que aqui têm as suas mais profundas raízes.

J.L. Reboleira Alexandre
jose.alexandre@videotron.ca

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