Crónica do Québec (Canadá)

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Os portugueses no Canadá

A presença lusitana no Canadá data do Século XV. Apesar de não ser consensual pode todavia afirmar-se que a família Corte Real abordou a região das actuais  províncias de Terra Nova e Nova Escócia durante o século XV em viagens de pesca que tinham como ponto de partida os Açores. Foi no entanto Gaspar Corte Real já no século XVI que criou nos portugueses o hábito da actividade piscatória na costa oriental canadiana do Atlântico Norte. É oficialmente aceite que os portugueses e os bascos dominaram a pesca do bacalhau e da baleia durante cerca de um século, até finais dos anos 1600.
Na plataforma continental e no Golfo do São Lourenço, mais  exactamente no extremo da Península de Gaspé, perto da cidade do mesmo nome, existe um museu que vale a pena visitar, e que está englobado num dos vários Parques Nacionais canadianos, o Parque de Forillon, onde se encontra recriada a actvidade da pesca e comércio do bacalhau naquela zona.
A determinada altura da visita lá está:
–  Quem comia o bacalhau de Gaspé ?
Em primeiro lugar os povos do Mediterrâneo. Como o calendário católico lhes impunha anualmente mais de 100 dias de abstinência e de jejum, os italianos, portugueses e espanhóis eram os maiores consumidores de bacalhau seco. Compravam (Nota: a actividade mercantil portanto, a sobrepor-se à primária ) sobretudo produto de qualidade superior. Mas enquanto os italianos preferiam as espécies mais pequenas, os espanhóis e os portugueses preferiam as maiores.  Os peixes  de qualidade inferior eram enviados para o Brasil e para as Caraíbas onde iriam alimentar os escravos das grandes  plantações.  Estes povos ainda hoje continuam a comer bacalhau seco.
A viagem de automóvel entre Montreal e Gaspé, cerca de mil quilómetros, ladeando  sempre a margem sul do rio São Lourenço é um périplo maravilhoso. Sobretudo os últimos setecentos quilómetros, em que,  pela não inexistência de auto-estradas, se exceptuarmos duas ou três cidades de relativa importância, toda a encosta do rio/oceano é salpicada de pequenas aldeias habitadas geralmente por pescadores, que desfilam pelos nossos olhos umas após as outras, com as pequenas casas típicas da zona, e bem no centro de forma imponente e dominante, uma grande igreja, resquícios de épocas relativamente  recentes que nos fazem lembrar a influência que até há bem pouco tempo a religião católica tinha sobre os habitantes da provincia do Québec.
Normalmente durante a viagem aconselha-se uma ou duas dormidas, num dos característicos hoteis-boutiques, pequenos negócios familiares,  que encontramos durante todo o percurso.
Uma vez chegados à zona de Cap des Rosiers (Cabo das Roseiras) na ponta da grande península de Gaspé, subindo ao farol do mesmo nome (o mais imponente do Canadá) do alto dos seus 37 metros de altura, desfrutaremos de imagens feéricas,  admirando no seu habitat natural  baleias, focas ou lobos marinhos.
A viagem ficaria no entanto incompleta sem uma visita à cidade de Percé, conhecida sobretudo pelo seu famoso rochedo do mesmo nome,  e pelos seus múltiplos e variados restaurantes, onde se pode desgustar  bacalhau fresco preparado das mais diversas maneiras.  Após algum receio inicial, pudemos no entanto constatar que o sabor final do fiel amigo, uma vez preparado convenientemente é aquele que encontramos em qualquer casa portuguesa. E se ao repasto juntarmos a presença de dois ou três convivas naturais da região, numa das dispersas vivendas sobranceiras ao oceano, num oásis de paz, espaço, e ar puro, estão reunidas as condições para que a estadia se torne inolvidável !
Boa Viagem.

J.L. Reboleira Alexandre

jose.alexandre@videotron.ca