A antiga Estrada Nacional 360 (EN360) tem o marco em pedra do seu ponto quilométrico zero mesmo colado ao passeio da entrada do Hotel Facho na Foz do Arelho, frente ao Mar a perder de vista pelo Oceano Atlântico adentro.
Neste querido mês de agosto, em que muitos dos meus leitores estão a banhos, aconselho vivamente uma visita a este marco altamente simbólico do nosso território das Caldas da Rainha! Acompanhada de uma breve reflexão sobre o seu significado e importância territorial e social, que procurarei fazer nesta crónica. A EN360 integrava a rede nacional de estradas de Portugal e deveria ligar a Foz do Arelho à rotunda sul da cidade de Fátima (a rotunda dos pastorinhos), de acordo com o Plano Rodoviário Nacional de 1945. Uma ligação estratégica, desde o Mar até à Serra de Aires e Candeeiros e mais para além até Fátima, centro do turismo religioso em Portugal. No entanto, só os troços Foz do Arelho-Benedita e Fátima-Minde é que foram efectivamente construídos. Há mais de 20 anos que a EN360 foi desclassificada e entregue aos municípios onde se situam os troços construídos, com evidentes prejuízos para todos. É fácil imaginar o potencial de desenvolvimento turístico que a construção total da EN360 poderia ter trazido, com todos os benefícios económicos e sociais daí decorrentes. Um projecto inacabado, por ausência de força e articulação política dos autarcas na época. Consolidou-se o eixo Leiria-Fátima e definhou o potencial eixo Caldas da Rainha-Fátima.O troço Foz do Arelho-Benedita pertence agora, na sua quase totalidade, ao concelho das Caldas da Rainha. Mas há também um pequeno troço implantado no concelho de Alcobaça.
Para o concelho das Caldas da Rainha, o troço construído entre a Foz do Arelho e a Benedita é altamente estratégico porque atravessa todo o concelho no sentido transversal, passando pelo centro da cidade (± 30 000 habitantes). A ligação às populosas vilas de Santa Catarina (± 3 000 hab.) e Benedita (± 9 000 hab.) deveria na verdade ser muito mais eficiente, de forma a potenciar a mobilidade de pessoas, bens e serviços, fortalecendo ao mesmo tempo a centralidade territorial das Caldas da Rainha. Para que tal aconteça, é imperioso investir na sua modernização e requalificação! Não é aceitável que o tempo de viagem entre Caldas da Rainha e Santa Catarina, uma vila do concelho, seja de cerca de 30 minutos para percorrer 17 quilómetros! Nos últimos 20 anos, por ausência de visão estratégica, o município das Caldas da Rainha pouco ou quase nada tem feito para investir no projecto de modernização e requalificação da EN360, planeado e faseado no tempo e no espaço, em diálogo intermunicipal com Alcobaça. É fundamental a ligação da EN360 ao IC2. Por isso, é urgente dar prioridade política à requalificação e modernização da EN360, uma estrada de enorme potencial paisagístico ligado a valores culturais rurais, que se poderá transformar, por efeito de investimentos estratégicos planeados, num instrumento fundamental da coesão e desenvovimento social e territorial do nosso concelho. Para os Romanos, o desenvolvimento urbano passava pela construção e valorização de duas vias essenciais, o Cardo (sentido norte-sul) e o Decumanus (sentido leste-oeste). Para as Caldas da Rainha, a via rápida A8 é o Cardo e a EN360 é o Decumanus. A lição do urbanismo Romano está ainda metade por aplicar no concelho das Caldas da Rainha!
Jaime Neto
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