De Braços Abertos

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Natureza – fábula II

Nesta fábula, mantém-se a figura do escorpião e o monge é substituído pela rã. Não porque se entenda que a natureza humana deva ser representada por tão traiçoeiro animal, ou que um monge possa ser comparado a uma rã, a não ser no seu carácter pacífico e respeitoso da natureza, mas porque a fábula “a rã e o escorpião” interessa a todos os empresários e profissionais. Resumidamente: o escorpião pede à rã para o levar até à outra margem do rio. Conhecendo o seu carácter, a rã recusa-se, sugerindo que durante o percurso seria injectada com o seu letal veneno. Mostrando-se surpreendido, o escorpião lembra a rã de que, se a picasse, também ele se afogaria. A rã aceita o argumento e decide transportá-lo. A meio do percurso, o escorpião pica a rã. Esta, moribunda, ainda tem forças para lhe dizer “tu assim também vais morrer, o teu comportamento não tem lógica!”, ao que o escorpião responde “eu sei, mas é da minha natureza.”
O eminente académico Douglas McGregor, estudioso das organizações, desenvolveu as teorias motivacionais X e Y, afirmando que a natureza humana tem características positivas ou favoráveis que devem ser valorizadas (Y) e características negativas ou desfavoráveis que devem ser condicionadas (X). É o contexto que determina, em grande medida, a preponderância de umas ou de outras, nele se devendo investir um esforço significativo, em termos de planificação, organização, direcção e controlo. Isto, sem prejuízo da responsabilidade que cada indivíduo deve assumir pelo seu comportamento, nomeadamente quando este se reflecte negativamente nos outros. De outro modo, passaria impune a atitude do Visconde de Valmont (John Malkovich), no filme Ligações Perigosas, o qual não se cansava de repetir “it´s beyond my control!”
Nas relações organizacionais e profissionais, tal como nas humanas em geral, os resultados obtidos são muitas vezes do tipo “lose-lose”, em que as partes perdem, podendo ganhar se cooperassem e negociassem de forma inteligente. De facto, o individualismo, a inveja e o ciúme limitam fortemente o potencial empreendedor de muitos, que melhor fariam em se unir e trabalhar em conjunto, com vantagens mútuas (win-win). Depois, permite-se que sentimentos negativos interfiram e se sobreponham à racionalidade do interesse próprio, chegando a afirmar-se “eu perco, mas tu também perdes!”. Finalmente, arroga-se o direito de interferir nas opções legítimas dos outros, até mesmo do foro privado, alardeando-se uma pretensa superioridade moral que, afinal, esconde fraco carácter. Tal como o escorpião, por ser da sua natureza.

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