De Braços Abertos – Competitividade

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Num mercado aberto, em que a concorrência funcione de facto, com respeito pela lei e pela ética, só há lugar para quem se empenha diariamente na aumento da produtividade, da qualidade, da inovação e do serviço ao cliente, alargando se possível as fronteiras do seu mercado tradicional. Quando tal acontece, ganham os empresários e os trabalhadores, os fornecedores e os consumidores, o país e os cidadãos. Ao contrário, quando as coisas correm mal, perdem aqueles que mais pagam pelas crises, a fundamental e indispensável classe média, sofrendo os mais carenciados e desfavorecidos.

Num contexto competitivo, requer-se profissionais qualificados e uma nova atitude empreendedora. Camões dizia que “a arte aguça o engenho”, a que acrescentamos “… e obriga a dar ao pedal”. O maior problema de Portugal reside na fraca competitividade da economia e da sociedade, consequência da falta de liderança e de um quadro político, legal e cultural que defende, até ao limite, o proteccionismo bacoco e o conservadorismo paralisante. Conhecemos as nossas insuficiências, mas temos pouca vontade de as superar, fazendo até delas, por vezes, motivo de orgulho e gabarolice.
Nesta perspectiva, é errada a ideia de que o problema está na qualificação dos nossos recursos humanos, não porque eles não precisem de ser muitíssimo mais qualificados (temos os piores níveis de educação escolar e profissional da União Europeia), mas porque a formação das pessoas só faz sentido num quadro de sã e activa competição. Se não, como se compreende que o país tenha mais de cinquenta mil licenciados desempregados, muitos deles a abandonar o país em busca de merecidas oportunidades? Haja competitividade e as pessoas sentirão a necessidade de se qualificarem, devendo para isso ser proporcionados os meios indispensáveis.
O que há, então, a fazer? Primeiro, reformar o quadro legal que regula a criação de negócios, o emprego e a concorrência, eliminando barreiras proteccionistas e burocráticas. Tudo o que puder ser simplificado, deverá sê-lo com a maior determinação, não se criando novas complicações. Segundo, apostar decididamente na autonomia e responsabilidade dos cidadãos e das empresas, reduzindo a dimensão do Estado e aumentando-lhe a eficácia. Terceiro, criar condições de apoio e segurança mais efectivas para os empreendedores e trabalhadores com dificuldades. Quarto, melhorar a qualidade da oferta educativa e formativa, bem como o seu alinhamento com as necessidades e oportunidades do país. Por último, lembrar que, se queremos realmente ser competitivos, temos de pôr de lado velhos preconceitos e, como diz José Mourinho, assumir que “as competições não se jogam, ganham-se”.

José Rafael Nascimento
jn.gazeta@gmail.com