E a Ota, senhores?

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António Carneiro
ex-presidente da Região de Turismo do Oeste

No final de 2018 apresentei na Assembleia Municipal de Torres Vedras uma recomendação (aprovada) no sentido de se chamar a atenção para a Comunidade Intermunicipal do Oeste e as autarquias, bem como das congéneres do Ribatejo e Leiria, para a necessidade de “impor” ao Governo a necessidade de reabrir o “dossiê Ota”, localização que um Governo de Guterres fizera aprovar para o Novo Aeroporto Internacional de Lisboa. Localização que permitiria continuar a bem servir a Área Metropolitana, todo o Oeste e Ribatejo, Leiria/Centro e Fátima. Olhe-se para o mapa de Portugal e veja-se a diferença de área de cobertura da solução Montijo e a agora, esta semana, ressuscitada hipótese Alcochete.
É um Governo Passos Coelho que decide pela solução Portela+ 1. Em reunião que tive, então, a oportunidade de ter com o secretário de Estado Sérgio Monteiro, este jovem membro do Governo, já bem dentro do dossiê colocou em cima da mesa como opção +1 três localizações: Montijo, Alverca e Sintra. Perguntado do porquê da exclusão da Ota, respondeu que fora excluída por causa dos nevoeiros frequentes. Sorri e disse-lhe que nos vastos estudos anteriormente feitos nunca tal fora referido. Estava, para mim, bem claro que outros interesses se levantavam: Comporta e outros vastos terrenos perto de Alcochete do Grupo Espírito Santo!
Curioso também aqui referir que um dos maiores opositores da Ota era… Rui Moreira, então dirigente associativo empresarial, homem do Norte, claramente interessado em “empurrar” o aeroporto para Sul, como forma de defender a capacidade do “seu” Aeroporto Sá Carneiro. Basta ler o que disse (já presidente da CM Porto) quando a TAP decidiu reduzir significativamente os voos Lisboa-Porto…
Quando toda a gente gozou com o ministro Mário Lino, quando disse que aeroporto a sul do Tejo “jamais” (disse-o em francês, sendo que as palavras são homógrafas), não perceberam que o que estava em causa era o interesse de melhor defender todo o “grande centro” do País. E Lisboa… logo ao lado.
Lamentavelmente, num País que conta os tostões, que não tem dinheiro para, no após pandemia (re)valorizar substancialmente o SNS e pagar de uma forma mais justa os seus dedicados e sacrificados profissionais, gastaram-se milhões (penso que daria para construir o novo Hospital do Oeste…) em estudos, iniciados bem depois de inúmeros avisos contra as não condições do Montijo.
O Aeroporto vai acabar por ir para Alcochete (e já não será mérito de Salgado e seus “lobistas”…), talvez… daqui a 10/15 anos! O Oeste vai ficar mais longe.Pior fica o grande centro do País e o tal eixo Estoril-Cascais-Sintra (muito bem servido pela CREL/A9).
O que lamento é que os autarcas deste vastíssimo território acima referido se mantenham em silêncio. A sua “luta” unitária, consistente, poderia levar a que, avançando-se, como parece, para Alcochete, se conseguisse um aeroporto regional para a Ota, para companhias low cost interessadas neste vastíssimo território turístico e que serviria também de escoamento exportando-se em melhores e mais rápidas condições, vinhos, hortícolas, frutos, cerâmica utilitária e artística. Não parece lógico que se lute por tão estruturante infraestrutura? É um silêncio que não entendo e me incomoda…. ■