José Ramalho
ator & marionetista
A RTCP | Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses foi criada pelo Decreto-Lei nº 81/2019 de 2 de setembro, tendo como Objecto além da sua criação, também “o programa de apoio à programação dos teatros e cineteatros que a integram, bem como o regime de credenciação dos mesmos”.
Esta Rede, há muito anunciada e tão desejada pelos profissionais da Cultura, viu a sua entrada em vigor no primeiro dia do ano de 2020. Apanhada na rede da pandemia, só em meados de 2021 as Salas de Espectáculos puderam candidatar-se à sua credenciação junto do Ministério da Cultura | DGArtes. Foram 81 as Salas credenciadas, nas quais o CCC está incluído, integrando assim a RTCP, conferindo a estas Salas o direito imediato de fazerem a candidatura ao “apoio à programação” que decorreu até fim de Novembro do passado ano. O montante global disponível para o apoio foi de 6.000.000€. Os equipamentos culturais bafejados pelo distinto apoio foram 39. Pela primeira vez na história do financiamento à Cultura por parte do Ministério da Cultura, o valor em causa não foi utilizado na totalidade. Ou seja, sobrou dinheiro!
Como sobrou dinheiro? Na Cultura? O que falhou?
Foram múltiplas as razões que a Comissão de Apreciação não apreciou nos processos de candidatura. A razão que subjaz à vista desarmada, foi a da maior parte da programação sujeita à apreciação não atender à razão desta Rede, ou seja, realizar a sua dita programação em Rede no âmbito da RTCP, para lá de outros dislates apresentados nas propostas.
Habituados que estão alguns Diretores Artísticos ou programadores ou outros que tais, plenipotenciários na sua suprema decisão da escolha iluminada, a maior parte das vezes num exercício egocêntrico de não partilha com os seus pares das outras Salas, continuaram o desvelo, manifestando supremas dificuldades no uso da Rede, incluindo a das comunicações digitais, ou seja, não comunicando.
Os quatro patamares de financiamento anual por parte do Ministério da Cultura enredavam-se nos 50.000€, nos 100.000€, nos 150.000€ e nos 200.000€, aos quais acresce em valor igual cada Município, onde a Sala credenciada está instalada, num financiamento válido por quatro anos. Nunca um programa desta envergadura foi lançado pela tutela, com o impacto que terá na vida cultural e orçamental das instituições e sua comunidade.
Sabendo que o CCC não conseguiu ver validada a sua candidatura e reunindo as condições para se apresentar ao patamar dos 200.000€, ou seja um potencial de 1.600.000€ em 4 anos, e que em 2023 vai voltar a abrir este programa de financiamento, deve, desde já, ir costurando a rede na preparação da proposta de programação que vier a ser apreciada, garantindo, por antecipação, ser validada e justamente apanhada na Rede. ■
1 Verso do poema JOSÉ de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)