Na sua crónica inaugural o nosso vizinho aqui do lado elencou um conjunto de factos, observações, medidas e orientações do executivo local, que segundo o próprio são excelentes ou no mínimo exemplares, para aferir do bom exercício do poder pelas sucessivas Câmaras Municipais de maioria PSD. Está visto que não faltam assuntos e temas criticáveis e no dia que nos abandone a inspiração podemos recorrer ao cardápio do Jorge Varela para encontrarmos as zonas de fractura entre a visão idealizada dos Paços do Concelho e a realidade que vivem os caldenses.
Varela atribui a si próprio a difícil missão de defender o executivo e aos restantes colunistas o papel das carpideiras, ou uma espécie de coro de velhos do Restelo, cuja única missão é dizer mal do executivo e do que se faz cá pela terra. Devo dizer que não me revejo neste tipo de maniqueísmo paroquial que divide entre os que dizem bem e os que dizem mal. A qualidade da democracia também se mede pela qualidade da oposição que é feita e como é feita. Da nossa parte podemos recordar que em muitas ocasiões afirmámos a nossa visão do concelho pela positiva, avançando com propostas construtivas. É do lado do poder, exactamente dos Paços do Concelho, que existe uma visão arcaica, que leva a recusar e não admitir qualquer sugestão ou projecto que emane de qualquer campo da oposição. Tantas vezes para os vir a recuperar mais tarde, apropriando-se dos mesmos como se fossem de sua autoria.
Compreendem-se as dificuldades dos que defendem este poder local. É que mesmo executando em grande parte um programa alheio, à falta de programa próprio ou face à sua fragilidade, a capacidade de concretização raramente é das melhores. Veja-se pelas obras de regeneração urbana (?!?), uma manta de retalhos que pretende dar alguma coesão ao centro histórico, feitas atabalhoadamente, num faz-desfaz que leva a que cada vez que se encerra uma etapa seja preciso, logo de seguida, começar as reparações. Os exemplos estão à vista, um pouco por todo o perímetro da intervenção.
Na mesma crónica, posicionando claramente a sua trincheira defensiva, o nosso vizinho referia-se ao Centro de Juventude de Caldas da Rainha como sendo o melhor do país. Não se faz por menos. Envolto na polémica sórdida do duplo emprego de dois “jotas” para apenas um lugar de director, que levou ao pagamento de uma choruda indemnização por parte da autarquia a um deles, para os Paços do Concelho isto é uma questão menor. O que interessa é ser o melhor do país. Desconfio dos rankings à partida, e ainda assim isto soa-me a um manifesto exagero. Já a manobra do duplo emprego, não podia ter corrido melhor se fosse combinada. E em política diz-se que o que parece é. O que só pode causar muita repugnância a qualquer munícipe que viva honestamente do seu trabalho e aos que, desejando ter esse trabalho, não o consigam ter por vivermos neste tipo de sociedade jota.
Qualquer caldense mais atento sabe que o Centro de Juventude não tem projecto nem programa dignos desse nome. Navega à vista, dando acolhimento a algumas iniciativas de jovens, é verdade, e sobretudo executando fretes à CMCR, encobrindo parcialmente o endividamento da mesma. Quando as coisas correm mal é a CMCR que paga as dívidas. Veja-se o programa da semana intermunicipal da juventude para se perceber melhor a olímpica irrelevância a que está remetida esta estrutura.
Mas a afirmação que o CJ caldense é o melhor do país vem confirmar outra verdade. Mais dramática e confrangedora: a política de juventude neste país é absolutamente indigente. Por mais semanas temáticas que se façam para mascarar esta realidade. Nem estamos a falar de economia e de criação de emprego, o que realmente pode oferecer reais perspectivas de futuro às jovens gerações, e que falta, literalmente, como pão para a boca. Estamos apenas a abordar uma perspectiva de valorização social e cultural da nossa juventude, de uma forma organizada, transversal, inclusiva, e permanente. Programas, projectos e acções que façam a valorização cívica e activa da juventude que não passe pelas fileiras das jotas e dos seus inenarráveis cursos e academias pelos barões partidários, que têm dado no que têm dado.
Lino Romão
linoromao2.0@gmail.com