José Ribeiro
Professor de Políticas Públicas
Elon Musk disse ser inevitável uma guerra civil na Europa. O guru da tecnologia, indiferente às misérias terrenas, quer colonizar Marte e tem sido dos mais generosos beneficentes para a campanha de Trump (o que irá acontecer no próximo dia 5?). O self-made man, empreendedor e gestor de sucesso, inspiração para centenas de livros de gestão, autoajuda e autopromoção, é ainda dos maiores praticantes do populismo que invade as redes de informação (sobretudo, as sociais), sabendo que a verdade pouco importa. As fontes desconhecidas, vídeos e notícias distorcidas ou descontextualizadas, mentiras descaradas, nada disto importa. O imediatismo e o sensacionalismo mandam. E manipular as massas através do medo é o que verdadeiramente importa. Esta poderosa emoção, que nos permite sobreviver a inúmeras situações, tão primitiva quanto básica, é desde os primórdios do tempo o segredo para controlar e subjugar. Vejamos dois exemplos: Nos jogos olímpicos espalhou-se a falsidade de que Imane Khelif era uma mulher transgénero. Sublevações indignadas espalharam-se pelo Facebook e afins, anúncios do fim do mundo e desabafos de que “no meu tempo não havia nada disto” (a falácia de que vivemos tempos prepósteros é facilmente delapidada através de uma mínima noção da História). Pela mesma altura, em Inglaterra, o horrendo massacre de 3 crianças motivou violentas manifestações contra “estrangeiros”, espoletadas pela informação (falsa) a circular pelas redes sociais de que o assassino era imigrante muçulmano sinalizado pela polícia. Neste momento, nas Caldas, assistimos a relatos de medo relativamente a “tentativas” de crime perpetrados por homens de “etnias pronunciadas”: as redes sociais generalizam e amplificam este medo milenar do “outro”. Não esqueçamos que, segundo a Direcção-Geral de Política de Justiça, o principal crime violento em Portugal continua a ser o mesmo: Violência Doméstica. Quem exerce o poder público não pode ignorar as mudanças, os anseios e receios da população, deve desenhar e implementar políticas que mitiguem, previnam e acolham quem cá chega e quem cá está. A maior transparência é essencial. Transparência enquanto rede diversificada de informação válida, e validada, de forma autónoma, independente e abrangente. Juntamente a esta, o incremento exponencial da participação cidadã é um pilar essencial para uma sociedade de futuro. O poder político, nacional e local, devem abraçar, motivar e promover a governança alargada e clara. A complexificação do mundo não pode justificar a vitória do medo e da mentira. Isto significaria voltarmos para as cavernas. ■