Entre Ecrãs e Silêncios: O Impacto da Tecnologia na Nossa Comunicação

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Filipa Silva
Eng. Agrónoma – Consultora e Formadora

Outro dia, ouvi uma reportagem na rádio sobre uma pesquisa que analisava as preferências de comunicação dos jovens. Fiquei um pouco triste, mas já esperava que as redes sociais estivessem a substituir as formas de comunicação mais tradicionais, como chamadas e SMS. O que realmente me chocou foi ouvir que: “25% dos jovens entre 18 e 34 anos nunca atende uma chamada”. A pesquisa ainda mencionou que muitos só atendem se já tiverem algo combinado sobre a chamada, caso contrário, não atendem, pois vêem chamadas inesperadas como uma invasão do espaço do outro, uma perturbação. Cerca de 70% disse que prefere enviar uma mensagem em vez de ligar. A conclusão é revelada num inquérito do Uswitch, citado no The Times.
A tecnologia e o seu desenvolvimento trazem muitos benefícios, como melhorar a nossa qualidade de vida e tornar processos mais ágeis. No entanto, será que não estamos a sacrificar algo fundamental? A nossa capacidade de comunicar, socializar, e desenvolver relações com os outros, a meu ver, está a ser prejudicada. Um artigo do Público revela que “Por cá, 86% dos jovens admite estar viciado nas redes sociais, face à média europeia de 78% e 90% já as utiliza desde os 13. E oito em cada dez prefere comunicar pelas redes sociais, em vez de pessoalmente, e considera que estas são para os seus pares uma parte de si mesmos”.
A comunicação tornou-se cada vez mais superficial, e a tecnologia parece ter-nos transformado em robôs que “vomitam” palavras e frases constantemente, tão viciados em Whatsapp, Facebook e Instagram (eu, já um pouco mais velha, não conheço nem menciono o TikTok), que acabamos por passar o tempo a olhar para um ecrã em vez de olharmos para a frente e para o que, e quem nos rodeia. Quando foi que nos esquecemos que um simples telefonema pode ser uma forma muito mais eficaz de encurtar e acelerar respostas e decisões? Ou que podemos reservar um momento para conversar pessoalmente e partilhar o que não precisa ser dito por mensagens? Aproveito este espaço não só para partilhar a minha opinião, mas também para provocar uma reflexão sobre o impacto da tecnologia nas nossas vidas. Ela traz-nos felicidade ou estamos a criar uma falsa ideia de relações humanas? Estarmos no mesmo grupo de WhatsApp, onde todos falam, mas ninguém diz nada com profundidade, com pessoas com quem muitas vezes nem sequer partilhamos momentos presenciais de qualidade é a realidade que pretendemos? O que baseia essas relações, afinal?
Para um público mais adulto, talvez este discurso se aplique melhor ao uso do Facebook. Que mundo é este em que todos têm liberdade para comentar o que quiserem, de forma muitas vezes destrutiva? Ter-se-á a internet transformado no ‘despejo de frustrações’ da nossa sociedade?
Enquanto num lado se põe corações, noutros escrevem-se intenções maldosas. Já me ri a pensar nisto, mas acredito que, assim como é necessário tirar uma carta de condução para conduzir na estrada, também se deveria fazer um curso para se poder utilizar as redes sociais.
Acho que ainda toda a gente se lembra do ditado “Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti”. Peço aos leitores que reflitam sobre esta expressão e que ajam de acordo com os seus princípios. Além disso, que não deixem passar ao lado quando um familiar, amigo ou conhecido tem um comportamento inadequado no mundo digital. .■

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