José Ramalho
ator & marionetista
Joaninha voa voa que o teu pai foi para Lisboa!
Altos voos atiram Ethos para a estratosfera!
Na Retórica, arte de bem falar, deve o discurso ser arrumado na sua eloquência dando cumprimento à persuasão da palavra, construindo a razão do mesmo, numa argumentação lógica, afirmando o pilar Logos; sem deixar de introduzir a dimensão emocional, condição fulcral na promoção da empatia, ou seja o Pathos; mas sobretudo, sem perder o sentido do bem na praxis humana assente na ética, dando corpo ao Ethos.
Ethos, Pathos, Logos. Os três pilares da Retórica, que o filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) arrumou para a condição humana.
Ao longo das nossas vidas vamos chamando a ética para legitimar os nossos e os alheios comportamentos, convictos de que é nesta entidade balizadora do bom senso, que encontramos a garantia da confiança individual e desejavelmente colectiva, nas práticas dos afazeres humanos. Na maior parte das vezes desconhecemos a razão etimológica da dita, mas que importa essa faceta da cultura geral, se a apreendemos no nosso dia-a-dia como figura charneira da acção humana.
Ora pois bem, todos os dias somos atropelados por notícias, originárias de figuras, mais ou menos desconhecidas do chamado grande público, mas que se usa apresentar como figuras públicas, já que à dita causa pública, dedicam a sua vida.
Todos ansiamos ocupar um posto de trabalho, na melhor correspondência das nossas competências, mas sobretudo, que seja devida e honradamente remunerado, para que pelo menos um dos três pilares, motores da razão do trabalho esteja preenchido – projeto, salário, prazer profissional. Quando vem à baila pública que um profissional recebeu uma maquia generosa em sede do edifício de indemnização por ter sido finalizada a sua contratação laboral, surge no colectivo, o sentimento de inveja, por este Euromilhões, não ter caído na nossa conta bancária. Mas, é só isso mesmo, “inveja colectiva”, gerando de imediato, aquele dislate popular: “estudasses”.
O caso muda de figura, quando se torna público, que uma das razões aduzidas para lançar este profissional de alto gabarito para as estatísticas do desemprego, se deveu tão só a uma causa tão mesquinha e comum em todas as profissões, “discordância com a chefia”. Chegados aqui, o caso ganha contornos de pandemia, dado que esta causa reina na maioria das organizações laborais, sem que, para tristeza da maioria, o desfecho não seja o mesmo deste profissional.
Não me vou permitir entrar nas considerações jurídicas, por ser incapaz e sobretudo pelas mesmas não serem relevantes para o desenrolar que esta novela veio a ter.
A roda das cadeiras, saindo de uma empresa intervencionada pelo Estado, com direito à dita indemnização, para outra intervencionada pelo mesmo Estado, de relação directa com a anterior e daí, “malgré tout”, sem indemnização, para a cadeira da Secretaria do Tesouro, é que traz este caso para a indignação pública. Todavia, considero que é mais do que justa esta última colocação, até porque, nem todos conseguimos o lendário tesouro dos Leprechauns no fim do arco-íris, mas esta gestora pública foi bafejada por essa sorte, ganhando o direito de passar para a Casa do Tesouro.
Pois sim, mas o que salta à vista desarmada, para lá da legalidade da coisa, certamente indiscutível, é que esta novela foi completamente desprovida de “ETHOS”, o patamar inalienável da confiança que reclamamos a todos, mas sobretudo aos gestores da causa pública, como mezinha fundamental para afastar pragas populistas, que na sua sanha prossecutória dos bons costumes, promovem facilmente overdoses, capazes de fazer perigar o reduto das sociedades civilizadas: a DEMOCRACIA!. ■