Aproxima-se o final do ano, época habitual de balanços, a que nesta crónica se acrescenta também um pequeno balanço do que tem sido a nossa colaboração habitual com a Gazeta das Caldas nesta crónica regular. Pode ficar assim, e desde já, o leitor atento para outro escriba que venha neste espaço substituir o “Chachecol do Artista”, a partir do próximo ano.
Quanto ao nosso balanço pessoal, o mesmo é muito positivo. Foi um enorme gosto e uma grande honra colaborar assiduamente com a Gazeta das Caldas, que na nossa cidade, e na nossa região, representa o que habitualmente designamos como imprensa de referência. O exercício da escrita regular obriga a uma disciplina, que só testada na prática pode comprovar o seu resultado. A ditadura do prazo a cumprir, e algumas vezes o fim de semana a esgotar-se, sem que o assunto da semana se venha aclarar, obrigam a avançar em nome de compromissos maiores. Nestes pouco mais de dois anos e meio tricotámos, se não nos falham as contas, 48 crónicas. Quatro dúzias de escritos que tentaram acompanhar a actualidade local e propor uma reflexão sobre os assuntos mais prementes para a nossa comunidade. Umas vezes mais conseguidos, outras vezes menos, com o que se chega ao leitor, o exercício foi sempre intelectualmente honesto, e também extremamente claro do ponto de vista do que é o posicionamento político deste cronista.
Neste período o país e o mundo mudaram alguma coisa, nem sempre para melhor. Nas Caldas da Rainha nem para melhor nem para pior. Politicamente, ficou tudo na mesma nas últimas autárquicas e o que se pode esperar nos próximos quatro anos é mais do mesmo, num arrastar de uma valsa lenta, em que o poder instalado continuará a tocar o mesmo disco gasto e roufenho, de quem não tem mais rasgo nem imaginação para encontrar novas soluções para os velhos problemas. Não vamos, nesta nossa última crónica, elencar tudo o que está por fazer e tudo o que foi dito, e nunca foi feito. Desde o início desta crónica, Trump substituiu Obama, e Costa substituiu Passos Coelho, o mundo ficou muito pior e o país um bocadinho melhor, o nosso Presidente da Câmara completou o seu primeiro mandato apagado e mortiço, e cometeu a proeza de se fazer reeleger, aumentando a votação do seu partido e o número de mandatos. Inglória missão esta, de um cronista de esquerda, a escrever numa terra assim. Mesmo o facto de ter sido, também neste período e nas últimas eleições, candidato à Câmara Municipal, e apesar dos significativos resultados alcançados pelo Bloco de Esquerda, é fraco consolo perante a constatação do imobilismo que continua a ser uma das principais características da sociedade caldense. Pelo meio, lá fomos tentando trazer alguma irreverência e inconformismo a esta coluna, que pudesse contaminar a vontade de sermos colectivamente mais exigentes.
O mundo e os tempos também continuam exigentes e acelerados (se bem que nas Caldas da Rainha não tanto), e o os próximos anos trazem-nos desafios importantes. As mudanças ambientais ameaçam-nos com alterações, ao nosso modo de vida, que não podemos antecipar completamente. Só podemos ficar atentos e esperar que a ciência e a política respondam adequadamente, pela preservação do planeta, que é de todos. A nível local os problemas são mais comezinhos, mas não menos importantes. O que se pode pedir, ou mesmo exigir, a todos os caldenses é que sejam mais activos e participativos se querem viver numa comunidade melhor. Mas se isso for pedir muito, pelo menos, como dizia o saudoso Raul Solnado, façam lá o favor de serem felizes!
Lino Romão
linoromao2.0@gmail.com