Jorge Mangorrinha
ex-vereador da Câmara das Caldas da Rainha
A localização do novo Hospital do Oeste (HO) junto aos limites dos concelhos do Bombarral e de Torres Vedras será uma derrota para o Presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, a que a sua fraca influência não é alheia, e para a concelhia local do Partido Socialista, pela sua inexpressividade nos diferentes quadros (local, regional e nacional), apesar de o país estar a ser governado por um executivo socialista.
O estudo sobre “O Futuro da Política Pública da Saúde do Oeste” foi encomendado pela Comunidade Intermunicipal do Oeste (OesteCIM) à Universidade Nova de Lisboa, para identificar indicadores a considerar na definição da localização do futuro HO. Com base num levantamento de necessidades em termos de saúde e em inquéritos realizados às 12 autarquias do Oeste, à população, à comissão de utentes e aos profissionais de saúde, o estudo apontou nove potenciais localizações, nos concelhos de Alcobaça, Caldas da Rainha, Óbidos, Cadaval, Bombarral, Torres Vedras e Mafra. Mas a indicação final apenas teve como critérios a otimização da distância e do tempo necessários para a população desta região se deslocar entre o seu local de residência e o novo hospital. Critérios a que junto esta pergunta: Será que um edil independente granjeia vontades colaborativas por parte do governo do país?
A alternativa apontada pela Câmara caldense, junto aos limites dos concelhos das Caldas e de Óbidos, precisaria de um estudo mais pormenorizado, que não existe, sendo defendida pelo atual edil de um modo genérico. Esse estudo mais pormenorizado teria em conta diferentes fatores, designadamente socioeconómicos. Aliás, pergunto, o que foi feito para assegurar uma localização inapelável nas Caldas desde que se fala deste tema?
Para além da localização, o Município das Caldas da Rainha deve juntar aos argumentos entretanto invocados uma ideia de singularidade, no contexto da sua expressão histórica e urbana. A relação com o termalismo não pode ser descurada, tanto nas especialidades que um novo hospital nas Caldas deve ter, como na regeneração do atual.
Aliás, este tema relacionado com o futuro das instalações existe independentemente da localização do novo hospital e está dependente de se conseguir inverter a ameaça de perda de autonomia e identidade suportadas pela crescente pendularidade quotidiana, a partir da qual se configura o desafio da sua afirmação como cidade de média dimensão com especificidades próprias num sistema articulado. Estes pontos identitários prendem-se com a sua história termal diferenciadora na região, com a inerente afirmação de um cluster ligado à saúde, com a dinâmica comercial e de serviços que a cidade oferece, associada a uma capacidade residencial relevante, a um ambiente urbano singular e a paisagens atrativas.
A oferta da saúde, sendo naturalmente uma questão que afeta os patamares de coesão e qualidade de vida da população, também é uma questão de abordagem fortemente condicionada pela política nacional em matéria de saúde. Entendido como um fator distintivo onde Caldas da Rainha sempre se destacou, evidencia-se a preocupação face à perda de relevância nesta matéria, porque os cuidados de saúde são (e sempre foram) um fator de atratividade essencial.
Uma gestão municipal ambiciosa deve tirar partido da posição geoestratégica das Caldas da Rainha, porque esta configura um papel relevante no âmbito de um espaço de articulação entre distritos (Leiria, Santarém, Lisboa), NUTS III (Oeste, região de Leiria/Pinhal Litoral, Lezíria do Tejo e Grande Lisboa), comunidades intermunicipais (CIM Oeste, CIM Leiria, CIM Lezíria do Tejo e AML) e acessibilidades (A8, A15 e A1).
Perder o grande investimento que é o HO convoca suplementares desafios de governação, que não se compadecem com amadorismos sob o signo de uma independência eleitoralmente conveniente e de uma gestão autárquica familiar. ■