“O poeta do vago, só pode ser o poeta da precisão que sabe captar a sensação mais subtil com os olhos, ouvidos e mãos prontos e seguros. Eis o que Leopardi exige de nós, para que possamos apreciar a beleza do vago e do indeterminado. É uma atenção extremamente precisa e meticulosa, na definição minuciosa dos pormenores, da escolha dos objetos e da atmosfera que nos rodeia, para que então se atinja a imprecisão desejada”.
Podemos começar com uma citação de Italo Calvino na conferência sobre a Exatidão, para falarmos do trabalho de Liliana Alves que em 2016 foi entrevistada para o Caixa Negra, e partilhou connosco a sua paixão pela joalharia. Liliana, Caldense que aqui ficou, revela-nos no seu trabalho de inspiração naturalista, um meticuloso detalhe na abstração, que nos seus trabalhos atinge a complexidade e beleza do conceito, e que fica tanto ou tão pouco vago, que nos permite imaginar formas diversas, que se transformam em alegorias de uma natureza por ela imaginada.
Será importante revelar que esta criativa, que dedica o seu trabalho em exclusivo a esta arte, já almeja mercados nacionais e internacionais, nesta constante perseguição pela perfeição e inovação que sempre a acompanha. As formas por ela criadas deixam-nos em suspense, e quando acompanhadas pela detalhada explicação da autora, é impossível ficar impune ao valor e horas de trabalho que cada criação da Liliana implica. São vários os reflexos que a sua criação espelha em seu redor, num brilho de pedra preciosa, que é a própria autora e que somente são revelados e apreciados por quem a conhece ou entende as horas intermináveis que tomam esta tarefa.
Italo fala-nos do poeta da precisão, aquele que ao contemplar o céu vazio sem nuvens, sentirá um muito maior prazer em contemplar um campo pleno de diversidade. O mesmo poeta que negará a monotonia das paisagens sempre iguais e que busca inspiração na plenitude da diversidade das cores, dos sons e dos aromas que compõe a paisagem de tonalidades que apenas se encontram nas do Criador.
Será esta a poeta da precisão, que nos mostra nesta diversidade e na complexidade das formas, a exatidão de uma criação, e que é tão plena de significado que certamente um Mondrian iria concordar que a obra da Caldense, é o culminar de muitas complexidades que se resumem nesta sua abstração de inspiração dos mestres Caldenses.
Pois esta designer de jóias, é o resultado de uma infância que aqui absorveu estes ensinamentos, e o forjar do metal precioso que a sua sensibilidade e ternura infligem todos os dias, em atos repetidos e rotineiros, fazem da sua pele magoada como uma bailarina em pontas, o reflexo de uma artista que tem tanto de dor e resiliência como de todo o sucesso que tem conseguido criar em seu redor.
O cristal, com o seu facetado bem preciso, e a sua capacidade de refratar a luz, é o modelo de perfeição desta exatidão, que como lema, se torna na predileção desta empreendedora, que sendo multifacetada, tem de ser one woman show e fazer do impossível, um ato de voluntariosa permanente boa vontade para que as suas pedras preciosas possam brilhar na alma de um outro alguém.
A Liliana Alves pode ser encontrada no Caldas Empreende, Caldas da Rainha, no seu atelier ou na internet com uma página com o seu nome.
Mariana Calaça Baptista
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