No fim seremos mais fortes

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Sara Velez

Tem sido esta uma afirmação que repetimos vezes sem conta, qual mantra que ansiosamente repetimos e que sofregamente aspiramos que se concretize: que o fim da pandemia chegue, que, apesar de tudo, no fim chegaremos lá mais fortes e ficaremos bem.
A pandemia causada pela COVID-19 é a maior crise sanitária dos últimos 100 anos, que nos atingiu numa sociedade onde as possibilidades de mobilidade são gigantescas e a globalização um fato social que se impõe num mundo muito diferente daquele que tínhamos quando tivemos que enfrentar a última pandemia. A nossa organização social, a forma como vivemos, convivemos, trabalhamos, socializamos fez com que o vírus que surgiu tão longe de nós rapidamente fizesse parte do nosso quotidiano no mundo inteiro.
Estamos agora, de novo, confrontados com aquela segunda vaga que todos falávamos que vinha e veio. Mais uma vez, os números da infeção, dos internamentos, e das vítimas mortais pesam diariamente nas nossas vidas, alienando-nos de tudo o resto.
O nosso Serviço Nacional de Saúde tem vindo a responder estoicamente, correndo contra o tempo, para que não se esgote a nossa capacidade de resposta. O respeito que merecem os Profissionais de Saúde, todos eles, na sua luta diária contra a doença, e a dívida que, no fim, teremos para com eles será incomensurável.
Esta é a ameaça invisível que nos tolhe os dias. Mas, como em todas as crises, outras afloram de forma oportunista e começam a ocupar, também, os nossos dias. No início da pandemia, em março, o Diretor-Geral da Organização Mundial de Saúde dizia que, para além de combatermos o vírus da SARS-COV-2, era, também, muito importante que não nos deixássemos infetar pelo vírus político que começava, já nessa altura, a aflorar. Temos visto muitos a aproveitarem-se da pandemia para saltos demagógicos e, com eles, tentarem obter, de alguma forma, ganhos políticos e de popularidade. Assistimos, também, à forma desastrosa com que alguns líderes mundiais trataram a ameaça, desvalorizando-a, negando-a e condenando à catástrofe sanitária as populações dos seus países.
É esta outra ameaça que, hoje, paira sobre nós: uma infodemia, a propagação intencional de informação falsa, com o intuito de desvalorizar, enganar, manipular e negar esta crise e os seus efeitos.
Este mês, queria a aproveitar esta minha coluna para vos deixar um apelo: é preciso resistir. No fim, chegaremos lá mais fortes, mas é preciso que mantenhamos fortes as nossas instituições: a nossa liberdade, a nossa democracia, a nossa imprensa livre. É preciso que não renunciemos a nossa responsabilidade individual de tudo fazermos para nos mantermos seguros, cumprindo as recomendações das autoridades de saúde. Todos já sabemos o que temos que fazer. Mas, é também necessário que não nos deixemos enganar pelo discurso fácil com que alguns vão tentar manipular-nos.
Cá estaremos, todos, para fazer o derradeiro rescaldo desta crise, mas, até chegarmos lá, todos os dias nos trarão desafios novos, aos quais teremos que saber responder pela primeira vez.
Dos que já hoje se arvoram da douta sapiência do que deveria ser ou não ser feito, dos que já hoje se apressam a pedir que rolem cabeças nos cepos, não rezará a História.

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