Rui Vieira
Gestor
Cresci no meio das flores, com a possibilidade de observar a minha mãe, a Dona Ilda florista a super mulher que atendia os seus clientes com um serviço personalizado e um sorriso genuíno. A bancada sempre limpa, as tesouras e as fitas coloridas na mesa, o cheiro fresco das plantas, os baldes grandes para onde ia o desperdício, tudo isto fazia parte da nossa vida. Enquanto eu fazia os trabalhos de casa no balcão da loja, testemunhava o esforço incansável da minha mãe para equilibrar as contas, satisfazer os clientes e sustentar a nossa família.
Este ambiente moldou a minha compreensão do que significa o sacrifício de gerir um negócio local.
Em Portugal, as micro, pequenas e médias empresas (PME) representam 99,9% do tecido empresarial. Estas empresas são a espinha dorsal da nossa economia, criando 7 em cada 10 postos de trabalho em mercados emergentes. No entanto, a realidade é que muitas não sobrevivem além dos primeiros anos de atividade.
Apenas 10% das startups conseguem superar os 10 anos de atividade. Sacrifício é a palavra de ordem, e ainda assim, muito poucas empresas irão superar os 3 anos.
O mercado tradicional não é apenas um espaço de transações comerciais. As lojas locais oferecem um atendimento de proximidade, produtos únicos, preservam tradições e fortalecem o tecido social. Cidades que já perderam os seus mercados tradicionais frequentemente enfrentam declínios económicos e uma perda de identidade comunitária. Estudos revelam que a ausência de comércio local leva ao aumento do desemprego mas sobretudo à diminuição da coesão social.
Os empreendedores locais enfrentam enormes desafios diariamente: desde a concorrência desleal (imposta pelas marcas, favorecendo as grandes cadeias) a mentalidade de promoção enganosa, semeada por estas cadeias, a dificuldade em contratar pessoas com compromisso, a fidelização de clientes, até ao equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Podemos fazer mais para manter os negócios locais na nossa cidade.
Precisamos que investidores locais se ergam. Tu e eu, pessoas comuns que, conscientemente, optam por comprar no mercado tradicional, que optam por pagar um pouco mais nos estabelecimentos locais, sem esperar nada em troca, mas com a intenção de apoiar e sustentar o comércio tradicional. Se cada um de nós decidir investir no mercado local, especialmente, poderemos garantir não só a sobrevivência destas empresas que tanto contribuem para a vitalidade das nossas cidades, mas também para a certeza de um futuro melhor para os nossos filhos, para a nossa cidade.
Apoiar o mercado tradicional é mais do que uma escolha económica; é um compromisso com a preservação da nossa cultura, identidade e comunidade. Ao valorizarmos os sacrifícios dos empreendedores locais, estamos a investir no futuro das nossas cidades e na qualidade de vida de todos os seus habitantes. ■