Oestinididade

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Gazeta das Caldas
Maria João Melo

Em Geografia, Oeste também designa Ocidente ou poente.
Um lugar no extremo, que limita o território terrestre para dar lugar ao marítimo no qual o sol se esconde no horizonte deixando um pronuncio de algo mais além, de uma promessa renovada noutro dia, e um projeto futuro por cumprir. O que justifica ser o por-do-sol, através da fotografia a cores, o momento mais registado.
A palavra Região, do latim, regio, significa direção. Vem de regere, o mesmo que dirigir, reger, guiar, governar e um conceito da Geografia que identifica as características e os elementos naturais e humanos de uma certa identidade espacial contida numa porção da superfície terrestre. Reconhece e descreve, através da respetiva paisagem, os elementos físicos e sociais que integra, um território assim diferenciado.
A adoção do sistema de comportamento de territorialidade, que em certa medida é considerada como uma função social, serve para garantir o controlo para a exploração de uma determinada atividade, comprovado pelo vocábulo Oeste ser tão amplamente usado para identificar grande parte das empresas que aqui se estabelecem, que são “qualquer coisa Oeste” ou, “Oeste qualquer coisa”. Demonstra um sentimento de identidade pelo orgulho em radicar nesta nossa região designada por um dos pontos cardeais da rosa dos ventos que, a 270 graus relativamente ao Norte, fica localizado à esquerda de um observador não desnorteado.
A noção de território é então um conceito de identidade social com um fim organizador das atividades humanas, logo cultural, submetida a um enquadramento legal cuja fundamentação é de âmbito económico, e foi com essa conceção que recentemente, em Caldas da Rainha, ocorreu a iniciativa, Congresso Empresarial do Oeste, com o tema O Oeste na Estratégia 2030.
Evento meritoso no qual retive que, pelo menos teoricamente, a diversidade biológica e cultural, passaram a ser tomados como elementos fundamentais do mundo natural a serem salvaguardados e não tomados, como até aqui, como uma força hostil a confrontar, especialmente no discurso intocável do ministro do ambiente.
Zumbiram-se as habituais palavras inovação e sustentabilidade em jeito de balanço de um horizonte 2020, ainda por cumprir, mais do que se adiantaram outras quantas, para a estratégia do futuro de curto prazo do 2030, para o qual a intenção era nos preparar com devida antecedência.
Tratou-se, uma vez mais, de um evento em que se procurou o viés da confirmação em que a integração do conhecimento não passa de demagogia. Onde ficam as boas práticas ambientais se há a intenção de explorar petróleo comprometendo tudo o que reconhece?
A Oeste, embora haja criação valor, assisto à degradação de ordem social e de ordem ambiental, do paradigma do progresso, outra vez mais, por crença no crescimento económico perpétuo que, sob o estandarte da competitividade, dissimula a disputa entre territórios pela primazia em explorar e beneficiar, o mais eficazmente possível, dos recursos naturais e dos recursos humanos.
Teria preferido que as participações efetivamente integrassem a dimensão ética, como a da responsabilidade social, numa perspetiva de transformação social e territorial, assim como, do reforço da identidade nacional. Que se consolidasse e conciliasse os conceitos de “vida boa” com o “da felicidade”, em que a possibilidade de reformulação da realidade nele contida, encerrasse a promessa do desenvolvimento de um novo paradigma socioeconómico que depende e faz depender os parâmetros de qualidade de vida.

Maria João Melo
rainhaemcalda@gmail.com