
Uma menina vivia numa aldeia piscatória. O Pai era pescador,a mãe era costureira. Ambos trabalhavam muito, sem nunca esquecerem que a Maria precisava da atenção deles.
A Maria, de barcos, redes, peixes, canas,linhas e anzóis sabia imenso. Marés e luas andava a tentar entender.
O Pai saía com o barquinho para pescar. Não sozinho, que isso meteria muito medo à filha. Ainda mais à Mãe, a menina Deolinda. Saía no barco com o compadre Januário!
A menina preocupava-se com os Pais. Percebia que eles também se preocupavam com ela. Não sabia era como dizer-lhes que podiam estar descansados, pois ela já era crescida, já tinha doze anos, estava a acabar o sexto ano, sabia que queria estudar mais, para a vida dos pais se tornar mais fácil.
Ser costureira era bom, era divertido. A Mãe da Maria gostava do trabalho que tinha. Só lhe dava pena as clientes quererem sempre repetir as mesmas saias e vestidos, fosse inverno fosse verão. Mudavam apenas os tecidos, ora mais quentes, ora mais leves. O sonho da Mãe era desenhar outros feitios, outras aplicações, outros figurinos. Impossível. As clientes, muito precavidas, pensavam que era mais seguro seguir sempre o mesmo risco. Algumas, mesmo, só usavam duas cores: azul no verão, cinza no inverno.
Grande monotonia, queixava-se a mãe! A Maria tinha descoberto que até os animais domésticos pareciam luxuosos, com cores variadas: o cão Mondego, vestido com pelo castanho avermelhado, o gato Farinha todo de branco com uma mancha preta à volta dos olhos, a galinha Inácia toda aperaltada com vermelhos,laranjas, amarelos e castanhos!
O Pai, afadigava-se com os voltas da Lua, os ventos, as artes. Pescava pequenas quantidades de peixe, vendia o que não gastavam em casa e dava graças por poder abastecer a mesa!
Maria entendia que as clientes da Mãe e os do Pai, precisavam de uma abanadela. Não um abanar de cauda feliz, como a do Mondego, não um alegre espreguiçar como os do Farinha, não um espanejar como os da Inácia, mas uma uma coisa assim mais vigorosa, como o espantar de cauda do pavão que vira no jardim de um palácio que visitara com os pais.
O Pai Pedro e a Mãe Deolinda estavam bem. Quem precisava de uma esfregadela, como dizia o Professor Belchior, eram os clientes de ambos.
A Mãe, precisava entusiasmar as senhoras a mudar de figurino, como ela mesma dizia e o Pai precisava de mostrar aos compradores que, tudo quanto vem à rede é peixe, e é bom para alimentar a família, seja polvo, seja sargueta! Quem comprava a pescaria do Pai, precisava aprender a cozinhar como a Avó Felícia.
Maria tinha a sensação que muitas pessoas grandes viviam preocupadas com ninharias e não ocupavam os pensamentos a tentar descobrir formas de viver que há muito tinham provado ser boas. Tanto queriam ser como os modelos dos anúncios, que nem conseguiam ser vedetas, nem eram capazes de deitar os olhos ao passado e descobrir o que lá havia de bom,e transportá-lo para o presente dia a dia.
Precisava de falar com o Professor Belchior. E entusiasmá-lo a fazerem trabalhos sobre cores e desenhos de roupas e, também, se possível, a recolher as receitas de peixe das amigas da Avó.
O Professor, que andava sempre a dizer que “íamos de mal a pior”, havia de colaborar!