Quo Vadis… Caldas? | Ao menos, cumpram a lei

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Gazeta das Caldas
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Os incêndios que nos últimos meses devastaram milhares de hectares de floresta, queimaram empresas e com elas muitos postos de trabalho e mais grave, mataram mais de uma centena de seres humanos, são tema incontornável.
Assiste-se entretanto a um deplorável jogo de desculpas entre entidades irresponsáveis. Culpados nem um. Nada de novo.
Evidentemente que a nossa paisagem tem vindo a ser adulterada ao longo dos anos, pela introdução massiva de espécies, que respondem exclusivamente a interesses económicos.
Evidentemente que a limpeza da floresta não é feita há décadas e se o próprio Estado não trata da sua floresta, não pode exigir que os privados o façam.
Os criminosos incendiários, que normalmente são rotulados de “chonés da cuca” ou alcoólicos, são mandados em liberdade e fica o assunto resolvido.
Evidentemente que ninguém acredita que enormes negócios não estejam por detrás destas tragédias. Ninguém se dá ao trabalho de investigar, quais são e de quem são, as empresas com interesses no fornecimento de serviços e equipamentos de incêndios, que movimentam muitos milhões.

Tudo isto se passou assim, com este governo e com os anteriores.
Os únicos inocentes envolvidos no combate aos incêndios, são precisamente os bombeiros, aqueles que também não raramente, acabam por pagar com a própria vida, a defesa das populações.
A questão é simples. É que a “proteção civil” não se vê, a não ser na hora da desgraça e como não se vê, não dá votos. E a gestão dos votos, é aquilo que preocupa os governos, este e os anteriores.
Mas este governo tem culpas que os outros não tiveram. Ao demitir do Comando da Autoridade Nacional da Proteção Civil, o comprovadamente competente Comandante José Manuel Moura, por acaso caldense, para dar emprego a mais um dos seus amigalhaços “boys” de estimação, fragilizou aquela estrutura fundamental no combate aos incêndios e os resultados estão à vista.
Já agora e porque ao que parece, o atual Comandante Municipal de Proteção Civil está próximo da merecida aposentação, depois de relevantes serviços prestados ao Município e às populações, em sua substituição, olha que grande Comandante nós podemos cá ter. Fica a sugestão, se por caso o lugar já não estiver prometido a algum amigalhaço.
Mas por cá, as coisas não são diferentes de lá.
A lei obriga a fazer a chamada “gestão de combustíveis”, em torno dos edifícios numa margem de 50 metros. Claro que esta lei não é cumprida e não o é, por razões também de gestão de votos. O incómodo que seria, obrigar os proprietários a limparem e cortarem a vegetação em torno de habitações, fábricas, etc…, aplicando as respetivas coimas. Isso é o que diz a lei, pois.
Uma denominada Comissão Municipal de Proteção Civil, presidida pelo Presidente da Câmara, prevista na lei e que integra diversos organismos, única entidade que pode acionar o chamado Plano Municipal de Proteção Civil, não tem nenhuma acta de reunião que se apresente. Será porque se esqueceram, ou porque nunca reuniu? Isso mesmo, acertou.
Uma das grandes manchas florestais do concelho de Caldas da Rainha é a Mata das Mestras, com cerca de 100 hectares e muitas habitações e outro tipo de edifícios na sua área de ocupação. Não é limpa há muitos anos e o mato cresce sem limite. É propriedade do Estado, mas o território é do concelho e os habitantes também. Ninguém limpa, nem exige que se limpe. Até ao dia em que a desgraça aconteça.
Até podia estar a falar destes assuntos agora. Mas não. Num passado não muito longínquo, enquanto vereador, coloquei todas estas questões, que foram respondidas com “música”.
A irresponsabilidade é soberana.
A Proteção Civil não dá votos, mas salva muitas vidas, não apenas em caso de incêndios, mas em muitas outras tragédias. Cá, como lá, assobiamos para o ar e depois choramos lágrimas de crocodilo.
Entretanto e ao menos, cumpram a lei.

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