Foi notícia a adesão de Caldas da Rainha à “Rede Europeia das Cidades Históricas Termais”. Este tipo de “redes”, tem a vantagem de aproximar cidades com características comuns, incentiva a sua interação e facilita a divulgação junto de potenciais interessados. Isto é uma boa notícia. É de esperar que em breve, com este impulso, passemos a ser visitados por inúmeros interessados nas nossas termas. Finalmente, alavancado pelo termalismo e tal como se esperava, o comércio será revitalizado e retomará a dinâmica que teve em tempos longínquos. Os muitos visitantes que se esperam, acorrerão ao histórico Hospital e com eles tudo irá mudar, tal a procura que vai ter, imagino. Esperamos já com ansiedade a verdadeira invasão de turistas, que farão transbordar as ruas da cidade.
Já temos a história, agora temos o marketing. Termas é que não temos, mas isso não interessa nada.
Passemos da fantasia à realidade.
Ultrapassada a fase da discussão estéril, sobre se o património termal devia ou não, ser concessionado ao Município (como se isso fosse uma opção e não uma inevitabilidade), há muito que devia debater-se, isso sim, aquilo que é importante, ou seja, o modelo de gestão adequado ao termalismo que se pretende, com uma estratégia, com visão de futuro, como um recurso fundamental para o desenvolvimento socioeconómico da cidade e do concelho.
O que importa saber, é que “termalismo” queremos e quanto custa.
Questões tão elementares para quem quer decidir com responsabilidade, como se o edifício do Hospital Termal tem, ou não tem, como indica por exemplo o relatório da “Frasa” e não só esse relatório, condições para albergar um Hospital Termal, adequado aos tempos que correm e com que rentabilidade. Ou quanto custa adaptá-lo para poder funcionar. Ou, se por exemplo, não será mais prático, barato, rápido e eficiente, adaptar o edifício do denominado Balneário Novo. Ou, por outro lado, se é rentável ou deficitário o Hospital Termal a funcionar. E a ser deficitário, de quanto será esse défice.
Perante este cenário, para o qual não existem respostas a nenhumas destas questões, como é que alguém pode decidir o que quer que seja com responsabilidade? Claro que ninguém está capacitado para decidir coisa nenhuma.
Estas questões são o início de tudo, mas começámos pelo telhado.
Diz o Sr. Presidente da Câmara que pretende encontrar um parceiro que seja uma IPSS, com experiência na área da saúde, ou do termalismo? E esse tipo de instituição existe onde? Uma IPSS vive por natureza, de subsídios do Estado. Obviamente nenhuma IPSS tem o capital necessário para um investimento desta natureza. A alternativa é, segundo o Sr. Presidente, a Câmara avançar sozinha para a gestão do Hospital Termal. Não sabendo as respostas a nenhuma das questões referidas, tem o Município condições financeiras para um projeto desta dimensão? Ou porventura, tem o Município vocação para gerir um Hospital Termal? Todos sabemos que não.
Dito isto, importa acrescentar que é com decisões irresponsáveis que se arruínam Municípios levando-os à falência. Continuamos a fazer uma gestão de “navegação à vista”, que nunca nos levou, nem leva a lado nenhum.
Estamos numa encruzilhada e num momento vital para o futuro do Concelho, não é tempo para leviandades, nem irresponsabilidades. O que agora for feito e decidido, terá repercussões no futuro e uma má decisão, poderá hipotecar para sempre a já débil capacidade de desenvolvimento do Município.
Haja sensatez.
Rui Gonçalves
rgarquito@sapo.pt