Era uma vez uma menina doente. Chamava-se Nina. Vivia com a Avó numa grande e bonita casa, na floresta. Nina não conhecia outras crianças, nem sequer adivinhava que pudesse haver mais meninas. Ela tinha os olhos e o cabelo escuros, o nariz arrebitado, era magrinha. A Avó penteava-a fazendo-lhe tranças. Nina ignorava que havia meninas com cabelo louro e olhos verdes, sem tranças. Nunca tinha ouvido falar de meninos. Na casa não havia retratos, nem revistas, nem livros. A Avó nunca falara sobre o que pudesse existir para lá dos limites da floresta. Portanto Nina, naturalmente imaginava que a floresta imensa a protegia dos ventos fortes que por vezes sopravam. Com o andar dos tempos Nina começou a aperceber-se de que o aspeto das árvores, dos arbustos, do céu, da temperatura iam mudando. As folhas caiam quando começava o frio, as árvores estavam despidas quando a neve caia para lhes cobrir a nudez, e quando esta neve derretia surgiam pequenos apêndices verdes que cresciam quando o sol os começava a aquecer. Com um sol mais forte apareciam flores e com as flores apareciam pequenos duendes que se alimentavam delas. Os duendes voavam e com os duendes voadores vinham espíritos com asas emplumadas que cantavam e alegravam os dias. Ela ia anotando num caderno estas transformações que observava pelas janelas e fazia desenhos para se poder lembrar de todos os pormenores do que via. Por vezes a Avó ausentava-se num carro que tinha motor e rodas e voltava destas idas à floresta com objetos extraordinários que colocava sobre a mesa da cozinha e a estes objetos Nina aprendeu a colar etiquetas com nome lindos que ela mesma inventava. Nina era feliz. A cadeira de rodas a que chamava tapete voador permitia-lhe correr todo o primeiro andar da casa. Ela nunca sentiu curiosidade em subir as escadas ou descer as que levavam ao lugar de onde a Avó trazia entre outras coisas, madeira para a lareira. Era um mundo enorme, o de Nina. Tão grande que ela nunca pensou em ir lá fora para descobrir a textura dos objetos que desenhava. Ou o cheiro das árvores, que ignorava. Nina não sabia se as penas dos duendes e espíritos voadores eram macias. No papel em que desenhava eram bem coloridas.
Beatriz Lamas Oliveira
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