Notas urbanas

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Duas notícias, veiculadas pela imprensa local, suscitaram-me alguma reflexão.
Refiro as ciclovias e o projeto para alteração profunda da avenida do mar na Foz do Arelho. As duas terão fundamento embora mereçam alguma sensibilidade e discussão pública.
De facto e começando pela enunciada em primeiro lugar, relacionada com as ciclovias, não poderei duvidar ou sequer contrapor a bondade da ideia na sua generalidade. Urge implementar a menor utilização da energia com origem nos combustíveis fósseis, por todas as razões ambientais e de sustentabilidade. As novas gerações estão receptíveis e devemos-lhes um legado ambientalmente sustentado. Por outro lado, convirá analisar o seu enquadramento numa cidade cujo “casco urbano” é antigo e com arruamentos não dimensionados para a redução dos seus perfis transversais. Aliás, temos assistido a várias intervenções no âmbito da requalificação e regeneração urbana promovidas pela edilidade, executadas e sem qualquer lugar a ciclovia. A própria definição sugere um espaço para circulação de pessoas, especificamente utilizando bicicletas. Na minha opinião, dever-se-ia apontar para a criação das mesmas com base nas avenidas circulares exteriores, definindo posteriormente os eixos de penetração à cidade e na estrita medida das possibilidades, sem dificultar o estado actual da circulação e seu estacionamento. O comércio local e de proximidade agradece.

Relativamente à profunda transformação a realizar na avenida do mar na praia da Foz do Arelho, assalta-me grande preocupação

As medidas de segurança, devidamente equacionadas e implementadas, terão de passar pela criação de canais protegidos, com semáforos nas travessias e limitação de velocidade ativa, para os veículos automóveis. Estejamos atentos à evolução em mobilidade elétrica para este tipo de transporte em duas rodas, defendendo os utentes das ciclovias e os automobilistas.
Relativamente à profunda transformação a realizar na avenida do mar na praia da Foz do Arelho, assalta-me grande preocupação. A dita avenida encontra-se consolidada e com enorme adesão dos utentes quer em época de verão, proporcionando parqueamento aos frequentadores da praia, ou fora da época balnear, aos fins de semana e não só. Aliás, convém referir que o avanço dos bares sobre a praia ocasionarão a desclassificação da avenida, passando claramente a arruamento secundário de tardoz dos mesmos, com funções de apoio, arrecadações, amontoado de lixo e de embalagens vazias. Basta verificar o que acontece em locais semelhantes e até na atual localização. Acresce ainda que se trata de uma zona frequentada por todos e não só pelos clientes dos espaços similares de hotelaria.
Efetivamente, a frente da lagoa, pelo menos até ao extremo nascente do designado parque de caravanas ou mesmo até ao “Penedo Furado”, necessita de ser melhorado e requalificado, mas começar pela avenida existente, não degradada e muito apreciada, não parece a exigência mais premente. A lagoa de Óbidos constitui um ecossistema em evolução natural que merece ser pensado em termos de instalações de apoio, que não deveriam ser definitivos, com passadiços sobre-elevados, preservando a vegetação natural, que potenciariam a observação e o prazer do que nos foi legado. ■