O silêncio dos inocentes

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Tenho já escrito sobre o novo aeroporto internacional de Lisboa. Retomo um tema que me foi caro enquanto presidente de Câmara. Todos se recordarão que preparámos no último grande congresso do Oeste, em 2008, com a colaboração do então ministro António Costa, o anúncio da construção no novo aeroporto na Ota, anúncio esse preparado com a concordância do primeiro-ministro José Sócrates e confirmado pelo ministro das Obras Públicas, Mário Lino, no congresso em Alcobaça.
O tempo passa e o que parece neste país como algo de decidido nada vale perante a inconsistência das decisões e os apressados golpes políticos que em nada abonam a classe e os seus titulares. Passada uma década imaginem que nem o enorme campo de tiro de Alcochete serve para o novo aeroporto, mas sim uma localização na base aérea do Montijo em pleno coração do estuário do Tejo!
Parece mentira, o que o Governo e a ANA estão a fazer ao colocar numa zona de alta densidade populacional e de avifauna, um imenso trafego de aviões!, Mas é essa opção que aparece como solução do PS, apesar de não poder haver decisão enquanto o estudo de impacte ambiental não o permitir. Alguns acham que é apenas uma questão de tempo, o de aguardar pela aprovação do EIA, ajudado pelos ventos do turismo que insistem em trazer mais passageiros para Portugal, pressionando assim as autoridades portuguesas e o concessionário a fazer investimentos!
Estes investimentos passam por aumentar a capacidade da Portela, uma outra insistência incrível, quando nos últimos 30 anos nenhum aeroporto no mundo se fez dentro de uma cidade. E argumenta-se que este segundo aeroporto servirá para apoiar os passageiros que, por incrível que pareça, se tiverem que trocar de avião vão ter que atravessar uma ponte sobre o Tejo e ainda chegar sempre por via rodoviária até à Portela.
Diria que em tempos de intervalo de voos abaixo das duas horas a probabilidade de se perder o segundo avião é gigante pelo tráfego e congestionamento de trânsito. Esta argumentação parece não ter em linha de conta uma mais que certa perda de competitividade no quadro dos aeroportos ibéricos, especialmente Madrid e Barcelona, ambos muito mais competitivos para se fazer escala destes voos.
Mas se razões de competitividade externa devem ser pesadas para se abandonar a solução dual, de dois aeroportos de Lisboa (Portela+Montijo) vejamos as questões internas:
Será que o PS não está sensível ao que pode desgraçar nas vidas urbanas e suburbanas nos concelhos do Montijo, Barreiro e Moita, por exemplo, sabendo-se que a linha de aproximação dos aviões, mesmo respeitando as determinações internacionais, se fará num corredor altamente povoado de habitações como na Baixa da Banheira (Moita) ou no Lavradio (Barreiro)? Alguém já explicou a estas pessoas que o ruído será gigante? E o problema da segurança com os aviões a entrarem no maior habitat de aves do país e a sujeitarem-se a acidentes incontroláveis como esta semana pilotos alertaram no programa Prós e Contras da RTP?
Se este dossier pode cansar alguns pela longevidade da discussão ou pela inconsistência das decisões, está mais do que na hora dos autarcas do Oeste, no respaldo do último chumbo do EIA à “solução” Montijo reagirem. O que estamos a falar é do maior aeroporto do país e de uma solução para Portugal e neste campo a região próxima de Lisboa com maiores condições para ajudar a resolver este problema de infraestrutura estratégica do país é a nossa região! Porquê tanto silêncio?

 

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