O ponto de partida deste livro é, como os outros da colecção «Retratos da Fundação», um olhar próximo sobre a realidade portuguesa. Neste caso trata-se da realidade espiritual tal como é vista por Bruno vieira Amaral (n. 1978) no tempo actual: «vivem todos reféns dos próprios medos – de perder o emprego, das doenças, dos outros, do futuro». Um Mundo onde o próprio jornalismo procura mais o barulho à volta da notícia do que os factos em si: «Os jornalistas experimentam um gozo inexplicável sempre que se deparam com situações em que podem colocar de um lado religião (sagrada, arcaica, obsoleta) e de outro a tecnologia (profana, moderna, avançada). Pode ser «a história do padre «motard», a conta do Papa no «Twitter» ou qualquer outra inanidade».
Em Portugal um historiador como José Pacheco Pereira afirma que «nunca tinha entrado numa igreja evangélica» o que leva Tiago Cavaco a concluir «Se um dos intelectuais mais proeminente do país não sabe nada sobre os evangélicos o que é que podemos esperar dos outros?» Há uma ideia sobre a religião em geral («uma série de imposições absurdas visando limitar a acção humana em nome de um prémio incerto no futuro») mas, mesmo assim, «o predomínio da cultura católica atirou para o campo do incompreensível tudo o que se afastasse dos seus padrões» e, por isso, «Para a maioria das pessoas falar de religião é falar da Igreja Católica.»
O autor coloca este assunto em equação na página 102 quando compara a geração da sua avó com a sua própria geração: «Muitas pessoas da geração da minha avó, desenraizadas do campo, órfãs na cidade, com pouca ou nenhuma instrução, vergadas pelo peso da pobreza, encontraram na religião uma escola, uma família, um sistema social de apoio que muitas vezes se substituiu ao Estado. Eu, e tantos outros como eu, procuramos consolo na arte, na literatura, ma música, no amor, nos filhos, numa certa ideia de humanismo, criando assim uma para-religião para suprir as nossas lacunas espirituais.» Uma certeza se instala: haverá sempre charlatães e oportunistas. Basta ler as páginas 50 e 75: «Hoje qualquer pseudo-pastor abre por aí uma suposta associação religiosa numa garagem, causa mau estar (sic) entre a vizinhança, saca dinheiro aos incautos, abandona as instalações com rendas por pagar, etc. E denigre o que resta de uma boa imagem dos evangélicos».
(Edição: Fundação Francisco Manuel dos Santos, Foto: Nuno Penedo, Revisão: Vasco Grácio, Design: Inês Sena, Direcção: António Araújo)