UM LIVRO POR SEMANA / 538 /«Todos os contos, novelas curtas e romances breves de Camilo Castelo Branco» – Recolha, prefácio e notas de José Viale Moutinho

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Gazeta das Caldas
| D.R.
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Tudo no escritor Camilo Castelo Branco (1825-1890) é grandioso, admirável e insólito; tanto na vida (o sangue pisado) como na escrita (o estilo). Tendo nascido em Lisboa no ano de 1825, fica sem a mãe antes dos dois anos e sem o pai apenas com dez anos. Na viagem com destino ao Porto em 1837 (com a irmã e uma criada) uma feroz tempestade obriga-os a desembarcar em Vigo. Tragédias na vida, grandezas na obra – esta poderá ser uma possível legenda.

Torna-se tarefa impossível resumir em 20 linhas um livro de 669 páginas que o organizador dedica a Alexandre Cabral, Romeu Correia, Xela Arias e Raúl Ruiz. Primeiro de quatro volumes, esta obra monumental mostra algumas facetas do «grande mestre» como lhe chamou Carlos de Oliveira em entrevista a «O Primeiro de Janeiro». Sobre a obra de Camilo Castelo Branco existem trabalhos de Teixeira de Pascoaes, Aquilino Ribeiro, José Régio, Vitorino Nemésio, Jacinto do Prado Coelho ou Alexandre Cabral, entre outros estudiosos.
O humor camiliano está na página 67 deste livro na sua resposta a um poetastro tripeiro que lhe enviou um livro para apreciação: «Segundo as fábulas, houve tempo em que os animais falavam, agora escrevem…». Ou na página 96 no prólogo de «A Caveira» quando o mestre escreve: «Quem disser que em Trás-os-Montes não há romances é capaz de dizer que a Lua não tem habitantes e as alfândegas ratos. A província de Trás-os-Montes é um sertão desconhecido, um retalho de Portugal segregado da civilização; mas não deixa por isso de ter ruma crónica de tradições bárbaras, que virá arquivar-se em folhetins quando os caminhos de ferro, construídos pelos capitalistas da Ovelhinha, aproximarem o contacto das inteligências com as florestas virgens daquela região polar.»
O único senão neste livro (mais que livro fica como acontecimento literário em 2016) é o chamado «acordo ortográfico» que dá origem na página 237 a uma estranha palavra (adota) em vez de adopta. Camilo, ele-mesmo, deve dar umas quantas voltas no jazigo, revoltado com a heresia. Mas isso já é outra história; Camilo resiste a tudo, até aos abortos da ortografia.
(Editora: Círculo de Leitores, Revisão: Pedro Ernesto Ferreira)

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1 COMENTÁRIO

  1. Sim, Camilo daria voltas no túmulo por causa do Acordo de 1990 porque certamente escreveria com a grafia de 1945. Na verdade, Camilo escreveu antes de sequer haver ortografia legal em Portugal, como o autor poderia ficar a saber com facilidade. Que falta de cultura para alguém que se propõe escrever sobre literatura portuguesa e que falta de noção para alguém que se propõe escrever publicamente, sem mais.