Um Verão muito especial

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Já na nossa última publicação referíamos quanto o presente Verão estava a ser diferente de todos os outros Verões que, desde 1977, passamos no Québec. E aparentemente está para ficar. Desde o início de Junho que a região de Montreal tem sido contemplada por um dos melhores Verões de que há memória. Durante o dia, o Sol brilha, e as temperaturas oscilam entre os 27 e os 33 graus centígrados. As noites têm sido relativamente frescas para o normal da época, com o termómetro a manter-se invariavelmente entre os 18 e os 25 graus. Humidade relativa muito baixa e uma quase total ausência de vento.
Sabendo quanto as condições atmosféricas influenciam o humor das pessoas, e por estes lados sobretudo, se atendermos ao habitual rigor dos nossos Invernos (o último ano foi excepção, e claro, segundo os entendidos, a culpa como não podia deixar de ser, é do tão propalado aquecimento global), as ruas e os parques da nossa cidade têm sido, literalmente, invadidos por todos aqueles que por várias razões, decidiram passar a época estival por estas bandas. Durante os fins de tarde e à noite, sobretudo nos fins-de-semana, as esplanadas dos variadíssimos restaurantes e cafés têm sido poucas para fazer face à procura.
Na nossa cidade, até durante o Inverno, grande parte dos habitantes utilizam a bicicleta como meio de transporte diário, com o bom tempo esse número explode e beneficiando da política dos dirigentes municipais, como sucede em muitas grandes cidades dos países mais desenvolvidos, em que cada vez mais se privilegia o uso da bicicleta, e assim, os espaços dedicados aos veículos de duas rodas aumentam regularmente na mesma proporção em que diminuem os espaços para os automóveis. Como consequência desta situação, e devido à natural dificuldade de coabitação entre os dois diferentes tipos de ocupantes da via pública, ciclistas e condutores auto, raro é o dia em que não haja um pequeno acidente com a participação de ambos. Os ciclistas beneficiando de prioridade em praticamente todas as situações, conduzem de forma verdadeiramente suicida. Nós, que no distante ano de 1962, quando obtivemos a carta de condução de velocípedes nas Caldas que nos autorizava legalmente a conduzir a velha pasteleira, que era meio de transporte diário entre o Chão da Parada e a Escola Industrial e Comercial, escrevíamos no exame teórico, que o ciclista, na estrada, tinha os mesmos direitos e obrigações que os condutores dos automóveis, tivemos de esquecer tudo isto à custa de muita calma e paciência. Aqui, o ciclista, tem todos os direitos, e um mínimo de obrigações, que aliás, na maioria das vezes não respeita.
Mas como a velocidade máxima dos automóveis nas cidades da área metropolitana de Montreal, está limitada entre os 30 e os 40 quilómetros por hora, normalmente as consequências dos acidentes não vão além de alguns arranhões para os intrépidos ciclistas.
Outro assunto que ocupa os órgãos de informação locais nesta altura, e como não poderia deixar de ser são as Olimpíadas de Londres, e, se até ao momento em que escrevemos estas linhas os atletas lusos da Europa ainda não tinham subido uma única vez ao pódio, já uma jovem luso-descendente de Montreal, na prova de mergulho sincronizado de 10 metros, era motivo de orgulho para todos os canadianos do Atlântico ao Pacífico. Meaghan Benfeito e a sua colega de equipa Roseline Filion obtiveram uma medalha de bronze na sua especialidade. Benfeito é assim, depois de Mike Ribeiro, há já alguns anos, estrela da Liga Nacional de Hóquei, que engloba as maiores equipas de hóquei sobre o gelo do Canadá e dos Estados Unidos, a segunda figura desportiva com raízes portuguesas e açorianas, a singrar no desporto de alta competição nestas latitudes.
Entretanto, e como tínhamos previsto no final do ano lectivo em Maio, a nossa província será chamada às urnas no próximo dia 4 de Setembro, numa eleição que se disputará a três. O actual governo do partido Liberal (PLQ), com um Primeiro-Ministro que continua inflexível na sua intenção de aumentar as propinas dos estudantes de nível superior e colegial, o partido (PQ) Québéquois (quebequense) que luta pela independência através do voto democrático, cuja chefe sofre do síndroma de impopularidade crónica (doença grave numa chefe partidária), e que, desde o início da crise estudantil em Janeiro, apoia de forma incondicional a luta dos estudantes, e um novo partido recentemente formado, a CAQ (Coalition Avenir Québec), Coligação para o Futuro do Québec, fundado por um antigo ministro da educação do Partido Quebequense, que busca uma solução de consenso, com um aumento mais moderado das propinas, do que o que nos é proposto pelo partido actualmente no poder, reconhecendo no entanto que, e considerando que os estudos universitários no Québec são os mais acessíveis em termos financeiros, em toda a América do Norte, que o congelamento puro e simples das propinas é pura utopia.
No próximo dia 4 o povo será soberano e ditará a equipa que dirigirá esta grande província deste maravilhoso país nos próximos quatro a cinco anos, pois em virtude de mais uma especificidade da nossa sociedade, não existe data pré-estabelecida antecipadamente para eleições, sendo sempre da responsabilidade do Primeiro-Ministro em função, a solicitação das mesmas, normalmente no período compreendido entre o fim do quarto e do quinto ano de governação de cada legislatura

J.L. Reboleira Alexandre
jose.alexandre@videotron.ca

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