Carolina Mendes de Oliveira
Médica, interna de Pediatria na ULSO-CR
A diversificação alimentar é um período da vida de um bebé que pode suscitar muitas dúvidas aos pais: “Quando começar? O que oferecer? Em que quantidades?”.
As recomendações neste âmbito têm vindo a evoluir nos últimos anos. A diversificação alimentar deve ser enquadrada na dinâmica familiar, pelo que nunca será igual em todas as famílias e os pais devem adotar o método mais adequado à luz dos seus hábitos e crenças, partindo do princípio que a evolução ponderal e necessidades nutricionais do bebé estão asseguradas.
Em 2005, surgiu um método de diversificação alimentar alternativo ao tradicional, BLW (Baby Led Weaning). Este promove a autoalimentação a partir dos 6 meses de idade, através da oferta de pedaços inteiros de alimentos integrados na ementa habitual familiar, cuja seleção não deve seguir nenhuma ordem específica, que o bebé deve comer com as mãos, escolhendo o que comer, quanto comer e a que ritmo. O termo “Baby Led” significa “guiado pelo bebé” e “Weaning” significa “desmamar”, ou seja, retrata o período em que o bebé mostra sinais de estar pronto a adicionar outros alimentos ao seu regime alimentar, para além do leite materno ou de fórmula, sendo essa introdução comandada pelo bebé, privilegiando a sua autonomia.
Esta nova metodologia incide nos seguintes princípios:
1- Amamentação como base. O leite materno (ou de fórmula) deve ser mantido como
complemento aos alimentos oferecidos ao bebé, em horário livre.
2- Descoberta. A introdução alimentar como período de descoberta, em que o bebé elege os alimentos que vai experimentar, a quantidade ingerida e o ritmo.
3- Experiência completa. Introdução de diferentes texturas e sabores individualizados numa fase inicial, em oposição a um regime inicial de sopas e purés, que engloba vários sabores num prato e uma só textura.
Este método tem sido muito difundido nos últimos anos e, apesar de haver muita informação disponível gratuitamente, há aspetos pouco esclarecidos para alguns pais, nomeadamente, aspetos práticos da implementação do BLW e eventuais riscos associados, se são mitos ou realidade.
Se uma família decidir realizar a introdução alimentar através do método BLW deve, a partir dos 6 meses de idade:
1º- Informar-se sobre o método BLW.
2º- Estar atenta aos sinais de que o bebé está preparado para a introdução alimentar,
nomeadamente, se se consegue sentar sem apoio, se consegue agarrar os alimentos, se já não tem o reflexo de extrusão da língua, possibilitando-o a engolir alimentos sólidos.
3º- Os alimentos devem ser preparados como palitos grossos (em forma de dedo) com comprimento superior ao do punho do bebé e, a partir dos 9 meses, ponderar pedaços de menores dimensões. Os alimentos devem ser cozinhados e oferecidos com consistência certa de modo a que se desfaçam facilmente na boca; as frutas de um modo geral podem ser oferecidas cruas, com exceção da pêra e da maçã (por maior risco de engasgamento associado).
4º- Os bebés devem comer com as mãos e utilizar a colher apenas quando a conseguirem manusear autonomamente. Isto é outro motivo pelo qual as sopas são excluídas numa fase inicial, podendo, contudo, ser utilizadas como “dip” (para “molhar” os legumes ou a fruta).
5º- Numa segunda fase, pode ser introduzida comida mais elaborada que possa ser
partilhada com a família, de consistência mais sólida, mas não muito dura, como por exemplo: panquecas, hambúrgueres, muffins. Há várias receitas disponíveis gratuitamente que os pais podem pesquisar.
Após alguns anos da introdução do BLW, têm surgido preocupações por parte dos pais e dos profissionais de saúde relativamente a eventuais consequências negativas deste método. As principais são o risco de engasgamento e o aporte calórico e de ferro deficitário. Há ainda poucos estudos que permitam responder, à luz da evidência científica, a estas questões.
Contudo, quanto ao risco de engasgamento, os dados observados até agora não mostram diferença nos 2 tipos de introdução alimentar.
A falta de evidência científica limita um parecer oficial quanto às outras preocupações que têm surgido. Contudo, é importante estar atento à quantidade de leite, versus outros alimentos, ingerida pelos seus filhos, uma vez que o leite dificulta a absorção de ferro; e também à evolução de peso, através de pesagens regulares, de acordo com o aconselhado pelo seu médico assistente, por forma a garantir que o seu filho está a ter um aporte energético suficiente para um desenvolvimento saudável.
Neste sentido, é aconselhável informar o médico assistente dos seus filhos do regime alimentar adotado, por forma a adequar o acompanhamento e a garantir que a introdução alimentar seja confortável para as famílias e adequada ao saudável desenvolvimento dos seus filhos. ■