
João Paulo Delgado volta a encabeçar a lista da CDU por Leiria. O combate às políticas de direita, defesa do SNS, melhores salários e mais habitação pública são bandeiras da sua candidatura
Embora tenha por meta eleger um candidato pelo distrito, a CDU tem vindo a decrescer em número de eleitores. Como pretende reverter esta situação?
Efetivamente, a vida das pessoas tem vindo a degradar-se e essa é a grande questão que nos preocupa. Não é por termos vindo a decrescer do ponto de vista de votos que vamos desanimar ou retirar o foco do objetivo que temos, que é eleger um deputado pelo distrito, porque as pessoas assim precisam. Alguém que esteja na Assembleia da República para defender quem trabalha, porque para defender aqueles que têm usurpado tanto o erário público estão lá muitos.
A CDU anunciou que a direita é o seu principal adversário. Considera que a coligação está, atualmente, fragilizada?
Temos de combater as políticas de direita, sejam elas protagonizadas pelo PSD e CDS ou pelo PS. Não retiramos o PS destas opções de políticas de direita que têm ajudado a deteriorar a vida das famílias, trabalhadores e que têm deteriorado os serviços públicos, designadamente o SNS, que tanto precisa de mais investimento. Basta ver que uma grande percentagem da população do distrito não consegue aceder ao médico de família. E, portanto, quando temos políticas que têm por opção transferir capital e recursos para os grandes grupos económicos, designadamente também na área da saúde, o combate à direita e às suas políticas tem que ser feito de uma forma séria, frontal e acérrima por parte da CDU.
Em relação a saúde, quais são os principais problemas que enfrenta o distrito?
Os problemas são imensos. Desde logo, é necessário avançar com o Hospital do Oeste, que tanta falta faz nesta região, e depois reforçar os cuidados de saúde primários e os serviços de proximidade, com mais profissionais e o investimento nas infraestruturas. Além disso, aumentar as valências nos hospitais existentes em Alcobaça, Pombal e Leiria, onde há condições mas o investimento tem sido insuficiente. Nos últimos orçamentos, seja por parte do PS ou do PSD/ CDS, mais de metade da verba direcionada à saúde tem sido canalizada para o setor privado da saúde. Estarmos a ver o SNS a deteriorar-se quando crescem, “como cogumelos”, clínicas e hospitais privados, e no distrito inclusive, é uma política que tem que se travar.
Melhores salários e mais habitação são lutas da CDU, como é que se podem concretizar?
Há margem para aumentar salários. Queremos que o salário mínimo seja suba para 1000 euros já a partir de julho. Mas o salário mínimo tem que pressionar os salários acima, e não estagnar o salário médio porque o salário mínimo cresce. Portanto, a nossa proposta é 15% de aumento para todos os salários, e de 7,5%, nas reformas, com um mínimo de aumento de 70 euros. Não podemos entender que não haja abertura para salários, para pensões e para os serviços públicos, mas depois haja borlas fiscais para as grandes multinacionais, em sede inclusiva de IRC, acima de 365 milhões de euros. Está-se a descapitalizar a capacidade pública de intervenção para melhorar as escolas, hospitais, creches quando depois essas borlas fiscais quem as acumula é o setor privado.
E relativamente à habitação…
A nossa proposta concreta é que se possa canalizar 1% do PIB para a habitação pública. Não podemos estar constantemente expostos à especulação imobiliária que torna proibitivos os preços de habitação, seja ao nível do arredamento, seja da aquisição. Se olharmos para a faixa litoral do distrito, não só os jovens precisam de estabelecer a sua vida e não têm como, mas também as famílias idosas que viveram toda a sua vida em determinadas zonas, nomeadamente centros históricos, são agora “expulsas” por esta pressão imobiliária. Depois, opções também de estabilizar o mercado de arrendamento com rendas de longo prazo e impedir estes despejos selváticos que têm acontecido.
Por outro lado, não podemos falar disto sem nos referirmos ao estrangulamento da banca com os créditos à habitação. E esta nova Lei dos Solos abre mais uma série de possibilidades para a especulação e para o enriquecimento das áreas da construção e do imobiliário. A resposta que tem que ser dada é, de facto, um parque público de habitação que possa acomodar as famílias.
Estamos no Hospital Termal e é conhecida a relação histórica das Caldas com o termalismo. Como relançar este setor?
Com mais investimento, mais profissionais e valorizando o património arquitetónico, que é fabuloso. Relançar o termalismo tem de ter projeto e investimento, naturalmente ligado à sua área central, que é a saúde, mas temos muito esta visão de que a valorização do património arquitetónico, nomeadamente do Hospital Termal, Céu de Vidro e Pavilhões do Parque, têm que ser recuperados com investimento público. O que tem acontecido a património do género deste, pelo país, é a sua apropriação, impedindo depois o usufruto público, para ser concessionado por décadas a privados que depois fazem hotéis de luxo, que só alguns podem pagar.
A CDU já foi parte da solução governativa. Há pouco teceu críticas às políticas do PS, que considera de direita, mas admite que este cenário possa acontecer de novo, caso o PS ganhe sem maioria absoluta?
A CDU e o PCP nunca foram obstáculo, bem pelo contrário, sempre foram solução para a vida dos portugueses. A partir de 2015, António Costa e o PS só foram governo porque Jerónimo de Sousa indicou o caminho. Foi possível abrir uma nova fase da vida política, com avanços vários, até o PS se cansar dos avanços que estavam a ser conseguidos.
Foi determinante a representação na Assembleia da República que o PCP e a CDU tiveram, para influenciar o rumo da vida dos portugueses. É isso que se pede atualmente. Quanto mais força tiver a CDU, com certeza que isso vai ter reflexo na vida das pessoas.
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