Depois de dois mandatos à frente da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e S. Gregório, onde foi eleito nas listas do PSD, Vítor Marques candidata-se pelo movimento independente “Vamos Mudar”. A governança, a aposta na cultura e desenvolvimento económico estão entre as prioridades
Empresário caldense, de 55 anos, defende que deve haver mais pro-atividade por parte do poder político para as Caldas da Rainha ocupar um lugar de centralidade na região Oeste.
Nos últimos oito anos integrou as listas do PSD, agora encabeça um movimento independente. O que é preciso mudar?
Senti-me bastante lisonjeado com o primeiro convite, há cerca de oito anos, e aceitei porque gosto de participar na causa pública. Mas foram dois compromissos de quatro anos que assumimos, não uma escritura para a vida. Até 26 de setembro continuo a respeitar a entidade que me convidou, mas a seguir terei um conjunto de dinâmicas e ideias para promover de forma diferente. Sobretudo nos últimos três anos houve coisas com as quais não nos identificávamos no modus operandi. E mudar também numa perspetiva de que quase 40 anos de poder da mesma entidade, seja ela qual for, não é tão saudável quando possa parecer.
Tem sido uma voz crítica em relação ao PSD, chegando a acusar o presidente da Câmara de eleitoralismo. Após oito anos ao lado do PSD, não teme que isso seja mal interpretado pelo eleitorado?
Espero que não. Quando a Câmara faz inaugurações e apresenta projetos, não temos nada contra, mas as pessoas também têm de saber que aquele projeto tinha seis meses para ser apresentado e só o foi ao fim de quatro anos, sem sequer passar pela Assembleia Municipal. Haverá outros processos desta natureza, não vamos achincalhar essas situações, o que queremos é apresentar as nossas propostas.
“Quase 40 anos de poder da mesma entidade, seja ela qual for, não é tão saudável quanto possa parecer”
“O nosso objetivo é ganhar [as eleições]. É difícil, mas é possivel”
Vítor Marques
E quais são essas propostas?
Podemos começar por algo que é fundamental, nomeadamente alterar um conjunto de situações relacionadas com a governança. Temos um atendimento aos munícipes que já não está ajustado aos tempos modernos, o munícipe não consegue fazer um acompanhamento monitorizado dos processos que entram, além de que estes demoram muito tempo. É preciso requalificar oficinas e armazéns, além de que a autarquia tem equipamentos já muito antigos, que é preciso que estejam ao serviço para trabalhar e muitas vezes não estão. Depois, temos um programa dividido em 10 grandes temas. Por exemplo, na cultura está na altura de começar um novo ciclo, com novos intervenientes, reformulações no CCC, nas associações. Não faz sentido que a ADJ, a Culturcaldas e a ADIO façam todas apontamentos na cultura, quando a Culturcaldas pode abranger tudo. A nível dos museus, devemos ter um “chapéu” em relação às exposições, para estarem consertadas e serem complementares. Na área da educação, há muitas coisas para fazer.
Até porque há delegação de competências…
O que está a acontecer é que o Estado está a transferir verbas para o município e este para os agrupamentos. Considero que o município tem de ser mais participativo neste processo, nomeadamente com o que já se fez muito melhor do que se faz hoje com as atividades extracurriculares e na criação de vivências para os alunos, inclusivamente ao nível do desporto, onde temos um movimento associativo muito bom, mas o município tem que promover atividades direcionadas a toda a família. Ao nível dos equipamentos desportivos, lembro da zona do FCC, que deve ser negociada com os proprietários e ser envolvida na área do parque desportivo, com valências complementares. A própria Expoeste tem de ser requalificada e isso pode ser feito de modo a termos um espaço adequado a eventos desportivos, congressos, comerciais e industriais. Todos os pontos do nosso programa são complementares e culminam no turismo, que é fundamental na nossa economia.
Que resultado pode alcançar nestas eleições?
O nosso objetivo é ganhar. É difícil, mas é possível, principalmente se conseguirmos tirar do sofá todas aquelas pessoas que não votam há muitos anos, e que são metade de um grosso de 45 mil votantes, por não se identificarem com nenhuma das candidaturas. Temos a convicção de que estamos a apresentar uma proposta diferente, com uma dinâmica e pessoas diferentes.
Como pode o município atrair mais investimento?
Temos de ser mais proativos. Temos tido diversos parceiros à procura de condições para se sediarem aqui e não temos as condições criadas. É certo que se está a fazer um conjunto de propostas, como o parque empresarial na Fanadia. Mas a zona empresarial precisa de ser requalificada e perceber até que ponto o PDM permite alguma que ela possa crescer. Também temos de criar dinâmicas para que os alunos da ESAD se fixem cá. Por exemplo, no Bairro Azul há um conjunto de equipamentos comerciais obsoletos que podem acolher esses profissionais.
A eletrificação da Linha do Oeste continua por concretizar. O que defende para esta linha?
Está-se a fazer a eletrificação de Lisboa até às Caldas, mas só com uma via e a corrigir poucas curvas, o que faz com que o comboio ainda vá ser um transporte mais lento do que o autocarro. Há que tirar partido da eletrificação da linha de várias formas, entre elas o aproveitamento como se se tratasse de um metro de superfície, com ligações entre os concelhos do Oeste e com as Caldas a reivindicar-se como epicentro da região. Para Norte era importante ter duas linhas paralelas e, com a ligação de Leiria à alta velocidade, poderíamos ter o Porto a pouco mais de uma hora de caminho. Isso potenciaria a nossa região.
Caldas foi classificada pela Unesco como cidade criativa. O que deve ser feito para capitalizar essa distinção?
Temos todo o mérito desse epíteto, mas não estamos a tirar partido dele. Podemos criar ateliês para artistas na zona da Parada e dentro da cidade, em conjunto com a ESAD. Esta utilização dos espaços que existem é fundamental.
Defende uma maior cooperação entre os concelhos da CIM. Como e em que áreas?
Entendo que temos de ter um papel muito próprio, criando a sub-região do Oeste, como aconteceu com a do turismo do Oeste. Foi benéfica e trouxe bastantes frutos, mas desvaneceu-se nesta região tão grande como a do Centro. Devíamos voltar a lutar por uma região de turismo para o Oeste, assim como espero que a criação, eventual, de uma NUT II, permita que venhamos a ter uma região mais ajustada e adequada.
E Caldas terá a ganhar com a nova NUTII?
Sim, porque os investimentos e apoios podem ser melhor direcionados, sem que haja tantas discrepâncias. Hoje, no posicionamento de várias áreas, como a saúde e a justiça, Caldas está na periferia de outras regiões. A NUT II vai dar essa centralidade às Caldas e temos de lutar por ela. Somos o epicentro de uma região e têm de gravitar mais coisas à nossa volta, temos um conjunto de infraestruturas que permite ter essa ambição, mas também temos de trabalhar em parceria. ■
“Hospital é nas Caldas”
Vítor Marques defende melhores cuidados de saúde primários e um novo hospital localizado nas Caldas, com respostas para a região
Nesta entrevista à Gazeta e à 91FM, Vítor Marques defende uma adequação dos cuidados de saúde primários nas freguesias das Caldas, destacando que este concelho é, no âmbito do agrupamento do Oeste Norte, o que tem “mais falta de médicos de família”. Uma carência que deve ser colmatada para a qualidade de vida dos cidadãos mas também porque quanto melhor for a resposta dos cuidados de saúde primários, menos se irão “encher as Urgências do Hospital”.
A par desta resposta há também a necessidade da construção de um hospital novo, “nas Caldas”, uma localização que o candidato considera que também é importante para Óbidos, Peniche, Bombarral e Alcobaça, mas também para Rio Maior, que “já não tem uma resposta efetiva e assertiva de Santarém”. À centralidade geográfica junta-se a das acessibilidades, com as ligações à A8 e a A15, assim como à Linha do Oeste.
“Temos todas as condições para se localizar neste concelho e esperamos que o estudo que está a ser feito na CIM seja sério e que não seja o resultado pretendido por quem o encomendou”, realça o candidato, que espera que a vontade política não se sobreponha às razões objetivas para a instalação deste equipamento de saúde.
Até ser criado o hospital novo deverão ser adequadas as instalações da unidade caldense, mas Vitor Marques entende que estas não devem ser ampliadas. “A obras devem ser pensadas no uso que lhe será dado a seguir”, defende, acrescentando que, após a construção do novo hospital não será necessário todo o edificado existente. Na sua opinião, a parte que está a funcionar em “contentores alugados há anos e a pagar-se muito dinheiro”, deverá ser aproveitada para a instalação do futuro balneário termal, juntamente com a requalificação do espaço de estacionamento atrás do Chafariz. “Em lado nenhum temos um património como o Chafariz das 5 Bicas no meio da estrada, é altura de requalificar aquela zona”, defendeu, acrescentando que a junta já entregou na Câmara uma proposta para colocar o chafariz no meio de uma rotunda e criar na envolvente um espaço ajardinado, que liga ao monumento de Ferreira da Silva, à entrada na Mata e ao balneário termal a criar.
Na próxima semana, o entrevistado é Carlos Pinto Machado, candidato do MPT em Óbidos.■