Construção de hotel no Bom Sucesso leva à demolição de depósitos da água

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Os depósitos que agora vão ser demolidos foram construídos há 30 anos

Dois depósitos de água situados no Bom Sucesso (próximo da Lagoa de Óbidos) vão ser demolidos e o empreendimento turístico Royal Óbidos, que vai construir um hotel nas proximidades, irá garantir a construção de novos reservatórios.
Esta solução não agrada ao vereador socialista na Câmara de Óbidos, José Machado, que quer que a autarquia reúna com representante do empreendimento para evitar a demolição de “património de valor superior a um milhão de euros” e sugere que sejam plantadas árvores de crescimento rápido em torno daquelas instalações a fim de se reduzir o seu impacto visual.
José Machado discorda desta proposta da maioria da Câmara e alerta que este património está registado no inventário municipal, feito no ano passado, depois de ter sido votado por unanimidade na sessão de Câmara. Acrescenta ainda que esta operação, de mais de um milhão de euros, “contribuiu para o resultado contabilístico das contas de 2011 e proporcionou melhores rácios, por ter aumentado muito o património municipal”.
José Machado lembra que há quatro anos, aquando da análise do projecto do empreendimento Royal Óbidos, sugeriu que se fizesse um ajustamento da implantação do previsto hotel para evitar a deslocalização dos depósitos de água e que o projecto foi aprovado, por unanimidade, “sem prejuízo de poder ter aquele rectificativo”. O vereador socialista diz também ter alertado para o facto de estarem a ser derrubadas “milhares de árvores, com consequências ambientais, no Bom Sucesso, antes de ser emitido o alvará de construção das infra-estruturas deste empreendimento turístico”.
O autarca reclama que o facto daquele empreendimento turístico de luxo receber um “elevado apoio monetário de fundos da União Europeia não justifica que se desperdice mais de um milhão de euros” com a demolição de depósitos de água. O vice-presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques, considera esta posição “surreal”, lembrando que o vereador José Machado votou favoravelmente a aprovação deste loteamento. “Estes depósitos, que têm um valor de cerca de um milhão de euros, têm mais de 30 anos e possuem uma capacidade de armazenamento de água muito inferior às necessidades reais de toda a envolvente deste pólo turístico, o que, por si, justifica a construção de novos reservatórios, sob pena de se colocar em causa o abastecimento público”, justifica.
Os novos depósitos necessários levaram a que a Câmara obrigasse o loteador a construí-los, num investimento de cerca de três milhões de euros. Humberto Marques esclarece ainda que a autarquia não recebeu qualquer comparticipação comunitária para a construção dos antigos depósitos ali existentes e acusa José Machado de fazer uma “interpretação de má gestão da coisa pública”. Adianta ainda que o investidor (MSF TUR.IM, participado do grupo MSF) solicitou inclusive à Câmara para pintar os depósitos por estarem na zona de promoção do seu próprio resort.
O vice-presidente da Câmara recorda que a autarquia fez todo o possível para evitar a demolição daqueles reservatórios e desafia o vereador a demonstrar que é possível fazer melhor. Humberto Marques refuta a ideia de que foi à conta deste património e do inventário de todos os imóveis, que a Câmara chegou a um resultado líquido positivo de 4,5 milhões de euros, justificando que se não tivessem feito esse registo, no valor de 149 milhões de euros, não teriam 4,5 milhões de euros, mas cerca de 10 milhões de euros de resultado líquido do exercício. “Isto porque estas construções, todos os anos, têm um custo de amortização [cerca de 5,5 milhões de euros], que é reduzido aos nossos proveitos”, explicou.
O resort Royal Óbidos, que já tem o campo de golf a funcionar, será composto por 630 unidades turísticas, diversos equipamentos de apoio e um hotel de cinco estrelas.

Fátima Ferreira

fferreira@gazetadascaldas.pt

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