“O povo decente e honrando tem que deixar de eleger pessoas que não são decentes nem honradas”

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HenriqueNeto1No passado sábado, dia 21 de Fevereiro, realizou-se mais uma edição do “21 às 21”, organizada pela Associação Movimento Viver o Concelho na sede da Junta de Freguesia da Nossa Senhora do Pópulo. Foram cerca de 40 pessoas que se juntaram para ouvir Henrique Neto, que abordou o tema “Sistema Político e Desenvolvimento Económico”. O ex-deputado do PS e industrial do sector dos moldes defendeu que a actual crise económica é resultado de um conjunto de vários erros que vêm sido cometidos desde o governo de Aníbal Cavaco Silva, há 25 anos, apontando ainda como primeira solução a alteração das leis eleitorais.

“O país parou no tempo e não há crescimento económico”, começou por dizer Henrique Neto, que não acredita que a culpa da estagnação económica seja dos empresários – muito pelo contrário, “estes têm sido o que sustentam a economia” –, mas sim do regime político. Erros atrás de erros, cometidos nos vários governos, levaram Portugal à situação de crise. O primeiro, defendeu o empresário, começou com a adesão à Europa (1986), porque o país não soube adoptar uma estratégia nacional, preferindo andar aos “ziguezagues”, com diferentes governos a apostarem em políticas muito contraditórias.
Uma das consequências da adesão à UE, argumentou o convidado, foi o esquecimento dos sectores tradicionais, como a agricultura, a pesca, o calçado, a confecção, os têxteis ou o vidro. “Isto porque demos como garantido que estes sectores iriam desaparecer e ser entregues à China”, acrescentou. A política portuguesa quis voltar a sua aposta para o mundo dos serviços, o que acabou por resultar num equívoco, não fossem hoje algumas destas indústrias as que sustentam a economia portuguesa.
Outro erro – este mais recente – do governo de António Guterres, consistiu na criação da “ideia peregrina” de que cada português tinha poder económico suficiente para comprar a sua própria casa, apontou o ex-deputado. Com a explosão do sector imobiliário “sem limites”, a indústria da construção civil chegou a representar 16% do PIB da economia portuguesa, enquanto nos outros países europeus chegava apenas aos 6%. Mais: além da corrupção envolvida entre as autarquias e os preços dos terrenos (vendidos a custos elevadíssimos), foi também nesta altura que os centros das cidades começaram a esvaziar, pois era mais barato construir nas periferias.
Na sua “tese dos erros”, Henrique Neto não deixou de lado o engano dos governos de António Guterres e de José Sócrates ao investir na construção de auto-estradas, em lugar de apostar nos transportes ferroviários. Sem uma linha ferroviária capaz de assegurar a exportação de mercadorias para a Europa, Portugal fica atrás de outros países, como a sua vizinha Espanha, o que prejudica as empresas nacionais que acabam por pagar mais para enviar os seus produtos para o estrangeiro.
“Hoje estamos a pagar por todos estes erros, que estão presentes na crise actual”, rematou Henrique Neto, defendendo também que existem medidas que podem alterar o cenário económico pouco positivo. Uma delas, “e a mais urgente”, é a mudança das leis eleitorais, de modo a que os cidadãos possam conhecer realmente quem elegem para seus representantes, e não pessoas “que depois sabem que os roubam, que são criminosas e que colocam gabinetes de advogados a fazer leis”. Por isso, é fundamental acabar com o actual centralismo democrático, que premeia o poder dos partidos, que são quem “realmente escolhe os seus deputados”, o que só provoca uma dependência entre os seus membros, esclareceu o convidado.
Nas suas últimas palavras, e tendo em conta a sua experiência política, Henrique Neto sublinhou que perante este modelo “pouco democrático” só é possível alguém manter-se no parlamento “se não pensar muito, porque senão ganham-se problemas de consciência na altura de votar e tomar decisões”.