Cheila Roça é exemplo de superação e sucesso

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Fazer um segundo mestrado e escrever um livro são objetivos futuros

A jovem caldense, natural de Salir de Matos, aprendeu a viver com a dislexia e recentemente viu distinguido o seu percurso profissional e cívico

Cheila Roça foi distinguida, recentemente, pelo Politécnico de Leiria com o Prémio Carreira Alumni 2021 pelo seu percurso profissional e cívico, sendo considerada um exemplo para os seus pares e para a socidade. Este reconhecimento é resultado de um percurso de superação e de coragem da jovem, de 33 anos e natural de Salir de Matos que, sendo disléxica, encontrou na educação e na escrita o seu caminho.
“Durante todo o percurso escolar foi muito difícil. Quando entrei para um curso de educação quase toda a gente dizia que era impossível, inclusive algumas pessoas no meio académico”, recorda Cheila Roça, que provou o contrário, licenciando-se em Educação Básica na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) e com mestrado em Educação Pré-Escolar. À Gazeta das Caldas, a caldense conta que foi já no ensino superior que percebeu que não tinha de vencer a dislexia, mas “aprender a trabalhar com ela”e algumas ferramentas do curso contribuíram para essa evolução. A partir daí, começou a escrever e esse percurso da escrita também lhe tem dado algumas distinções.
Toda a bagagem académica tinha-lhe dado “liberdade para arriscar” e Cheila Roça percebeu que também poderia ajudar os outros a superar os seus problemas, sobretudo o de crianças que vivem nas zonas rurais do concelho, e ajudar a potenciar o seu talento.
Criou, em 2015, a Associação de Acompanhamento Pedagógico e Social “Construtores de Encantos”, que atualmente integra 18 crianças e adolescentes (com idades entre os 6 e os 16 anos) com limitações académicas, problemas familiares e outras que só não têm quem as ajude a estudar nem têm métodos de estudo.
Juntamente com a mentora da associação, sediada na antiga escola primária das Cruzes, estão pessoas amigas, profissionais da área social, que trabalham de forma voluntária na realização de workshops, apoio pedagógico, atividades de Verão e visitas, “dando mais mundo” aos participantes. A pandemia obrigou a alguns ajustes e desafios, como a necessidade de ensinar a utilizar a tecnologia, porque as escolas deram portáteis e internet, mas havia crianças e pais que não sabiam usá-los.

A diferença de oportunidades
O apoio pedagógico continua a ser prestado e Cheila Roça tem-se apercebido de que este ano, resultado da situação pandémica, é ainda mais necessário. “Houve muitas crianças que não conseguiram tirar o melhor proveito da escola virtual, porque se distraem com facilidade e não têm um acompanhamento tão focado”, explica, acrescentando que esta situação potencia as diferenças entre quem vem de meios mais desfavorecidos e quem tem uma condição socio-económica que permite pagar explicações. “Ainda temos um leque de crianças mais desfavorecidas e com necessidades educativas na escola que contrasta com outras, a quem o acesso à educação e oportunidades são bastante facilitadas”, disse a jovem para quem ter seguido um curso de Educação, foi a “melhor decisão” da sua vida, ainda que também tivesse sido a mais difícil.
Defende que a educação tem de mudar, na perspetiva de potenciar o que cada criança tem de bom e revela que já há muitos exemplos nessa área, alguns deles de escolas na região.
A caldense lembra o seu próprio percurso, que começou na escola primária dos Cabreiros, numa sala que tinha 20 crianças dos quatro anos de ensino básico e onde, “era muito difícil detetar-se qualquer tipo de problemas”. Sempre sonhou com a área da Educação, mas a dislexia levou-a a optar por um curso de Informática ao invés das Línguas. A “paixão” pela obra de Fernando Pessoa e o gosto pela área, acabaria por levá-la a alterar o percurso mais tarde e, desde então, nunca mais deixou de estar ligada à escrita e a fazer investigação académica na área da educação especial.
Cheila Roça divide agora o tempo entre o trabalho como educadora de infância e a associação, e tem como objetivo próximo de fazer um segundo mestrado, na área da educação especial. Acalenta também o sonho de escrever um livro de poesia. E reconhece que ainda há preconceito com a dislexia, que é preciso combater, pois conhece muitas crianças disléxicas com grandes capacidades, sobretudo na área criativa. ■