Gazeta das Caldas prossegue nesta edição a recolha de testemunhos de responsáveis e personalidades da região com o intuito de partilhar os desejos a alcançar na próxima década nas organizações que representam, num exercício que estimula a própria região a “Pensar o Futuro Hoje”. Quisemos também saber qual o maior desafio pessoal que se lhes coloca no ano que agora se inicia. Empresários de vários sectores, políticos dos diferentes partidos, directores de escolas e dirigentes associativos dão a conhecer algumas das suas principais preocupações e anseios, mas também os projectos que tencionam desenvolver

1.O que gostaria de conseguir (ou que fosse conseguido) para a sua instituição, inserida na região e no país, no decorrer da próxima década?
2.Qual o seu principal desafio para o ano de 2020?

Maria do Céu Santos
Directora do Agrupamento
de Escolas Bordalo Pinheiro

Maria do Céu Santos
Directora do Agrupamento de Escolas Bordalo Pinheiro

1. No que respeita à instituição que dirijo, a nova década traz-nos desafios que resumiria num único fator: consolidação e melhoria dos objetivos alcançados.
Sendo muitos os desafios, elejo seis, que se me afiguram essenciais:
1.1. Regeneração do corpo docente
Há uma geração de professores que durante décadas deram o seu melhor, cumprindo a sua missão, mas a maioria deles situa-se num grupo etário que caminha para a reforma. São muitos. O Jornal Público, na sua edição de 25.11.2019, afirma que na nova década serão quase 60%.
Sendo a Educação o mais importante fator de desenvolvimento de uma sociedade, incumbe ao Estado a criação de condições para que nas Escolas não se verifique o deserto da docência, prevenindo, ao invés de remediar, evitando o colapso do sistema.
1.2. Manutenção da harmonia na comunidade educativa
Por mérito de professores, alunos, funcionários e famílias, o AERBP tem vivido em ambiente de profunda harmonia, quer disciplinar, quer de colaboração entre alunos do ensino cientifico-humanístico e do ensino profissional.
Pois, que se mantenha, na nova década e nas que se seguirem.
1.3. Transferência de competências para o Município
É um grande desafio para a Câmara e Juntas de Freguesia. Há motivos para acreditar numa excelente resposta. Que a nova década confirme todas as boas expetativas!
1.4. Elevação dos níveis e empregabilidade direta dos cursos profissionais
A empregabilidade direta dos alunos dos cursos profissionais – colocação imediata na área da sua formação específica – ronda os 35%, 50% continuam os estudos. Desejamos que este número cresça na nova década.
1.5. Manter o prestígio da instituição
Manter na nova década o prestígio arduamente alcançado por professores, alunos e funcionários, respondendo às acrescidas exigências que esse prestígio traz, sem deixar de manter as portas abertas para todos os alunos, sem exceção, incluindo aqueles que possam ter maiores dificuldades.
1.6. Melhorar
Melhorar, sempre: na avaliação externa do Agrupamento; na interação com a comunidade educativa; na criação de novos projetos motivadores dos alunos e dos docentes… .
2. O principal desafio para o ano 2020 tem a ver com a flexibilidade curricular e a inclusão, definida como prioridade pelos DL 55 e 54/2018.
Muito haveria por dizer, mas não cabe nos 500 caracteres propostos pela Gazeta.
Sempre se dirá que no âmbito da autonomia e flexibilidade curricular as escolas podem gerir até 25 % do total da carga horária, reinventando a sua relação com os alunos, com vista a assegurar o sucesso de todos, indo ao encontro das respetivas características, respeitando a sua diversidade, tornando a aprendizagem atrativa, vencendo a desmotivação e o abandono escolar, em espaços e horários criativos, como a educação para a cidadania, sem perda do nível de exigência.
É possível?
Obviamente, com um corpo docente motivado para este e outros desafios que a década nos propõe.

João Santos,
director da ESAD

João Santos,
director da ESAD

1 . Gostaria que a próxima década confirmasse a ESAD.CR como referência para o desenvolvimento cultural e económico das Caldas da Rainha, reforçando a sua importância estratégica para o reconhecimento nacional e internacional da cidade como cidade criativa, do conhecimento e das artes. Apesar de ser leiriense, sinto-me de dois concelhos e gostaria de poder deslocar-me de comboio entre as duas cidades durante a próxima década.
Região
Gostaria de viver numa região resiliente, culta, criativa e inovadora. Com uma visão de futuro ambiciosa e esclarecida, preferencialmente ancorada no conhecimento, nas pessoas e em valores humanistas. A realização da Capital Europeia da Cultura em 2027 é um marco que permitirá medir o alcance dessa visão. Gostaria que houvesse mais capacidade para produzir, partilhar e acolher arte contemporânea. Gostaria que a arte e o design fizessem parte das práticas, dos discursos e dos planos dos decisores políticos e económicos.
País
Gostaria que o nosso país fosse referido como um exemplo de justiça social, de inclusão, acesso e de atenção a todos os cidadãos. Gostaria que fosse um modelo a copiar relativamente a políticas e práticas para a sustentabilidade. São desejos pouco originais, mas urgentes.
Gostaria ainda que houvesse mais apoio ao Ensino Superior das artes, do design e da cultura e que fosse posta em prática uma articulação real entre os diferentes níveis de ensino, com vista a atribuir às humanidades o lugar que deve ocupar numa sociedade do conhecimento, desenvolvida e próspera. Gostaria que houvesse mais Ministério da Cultura nas escolas.
2. Concretizar a celebração dos 30 anos da ESAD.CR, com exposições, edições, novas formações, atividades de internacionalização, conferências e uma reflexão sobre o lugar que ocupam e devem ocupar 30 anos de transformação do ensino artístico, do design e da cultura. O desafio permanente é a criação de condições ideais para que a comunidade académica tenha as melhores condições para o desenvolvimento e aplicação do conhecimento, realizando a missão da Escola de formar cidadãos para um mundo complexo.

João Silva,
director do Agrupamento
de Escolas Raul Proença

João Silva,
director do Agrupamento de Escolas Raul Proença

1. Ainda temos muito presente a passagem para o século XXI e já estamos a perspetivar o ano de 2030 como horizonte temporal. Esta próxima década coloca-nos enormes desafios e exige respostas eficazes para que a educação e a instituição escola não seja vista como obsoleta. A inteligência artificial vai acelerar o seu ritmo de evolução e a escola tem de valorizar a sua dimensão humana para marcar a diferença. A dignificação e valorização dos profissionais que atuam no setor da educação é fundamental para aumentar a sua atratividade e proporcionar o rejuvenescimento de que carece.
A requalificação da Escola Secundária Raul Proença e a dotação de todas as escolas do agrupamento com equipamento informático atualizado e de qualidade é um desejo que gostávamos se tornasse realidade.
Mas o maior desejo para o AE Raul Proença é que continue a proporcionar experiências educativas significativas aos seus alunos, em que estes se realizem como cidadãos e que a formação proporcionada se reflita nas suas ações. Não podemos sentir-nos realizados se os nossos alunos participarem em manifestações a favor da sustentabilidade do planeta e depois não agirem em conformidade. Contribuir para que os nossos alunos sejam adultos realizados e felizes é, e será sempre, o nosso maior desafio.
2. A transferência de competências do governo central para as autarquias locais, na área da educação, em Caldas da Rainha, vai ocorrer em 2020. Conseguir que o processo decorra de forma tranquila e com um impacto positivo na qualidade da prestação do serviço educativo é para mim o maior desafio.

Fernando Tinta Ferreira,
presidente da Câmara
das Caldas da Rainha

Fernando Tinta Ferreira,
presidente da Câmara das Caldas da Rainha

1. Para a década de 2020 a 2030 considero importante que o Concelho das Caldas da Rainha tivesse finalmente resolvido o problema do seu Hospital, que a Linha do Oeste veja a sua intervenção realizada com a electrificação e ligação directa a Lisboa, que a Lagoa tivesse finalmente o problema do assoreamento solucionado, que as nossas Termas estejam em plena afirmação e que tenham readquirido o seu
antigo fulgor, que a distinção de Cidade Criativa da Unesco tenha ajudado a dinamizar e promover o sector Cultural de Caldas da Rainha.
Espero ainda ver os Pavilhões do Parque recuperados e com um Hotel de 5 estrelas a funcionar e com grande sucesso.
Na Região é essencial assistir à consolidação económica e ao crescimento das suas empresas, à afirmação do turismo em especial no Oeste, à resolução dos problemas ambientais que há vários anos
persistem e ver os problemas na rede de Cuidados de Saúde resolvidos. Para o País considero essencial o aumento do investimento público sem prejuízo da consolidação das contas públicas. Os impostos deverão baixar para promover a riqueza de modo que os portugueses possam ver a sua qualidade de vida e o seu índice de felicidade aumentados.
2. Para 2020 teremos como principais desafios em Caldas da Rainha o desenvolvimento das obras de Reabilitação Urbana na cidade, o lançamento das obras da Ala Sul do Hospital Termal e a salvação e
transformação em Hotel de 5 estrelas dos Pavilhões do Parque no cumprimento do Concurso lançado pelo Município. A conclusão das obras da nova Unidade de Saúde Familiar em Santo Onofre, da Escola da Encosta do Sol, do Centro da Juventude, da reabilitação da Casa Amarela. O reinício das obras do Teatro da Rainha e o início das obras de reabilitação da Escola do Avenal, da Igreja de Nossa senhora do
Pópulo e do Pátio dos Burros entre muitas outras. Estas serão no próximo ano as principais iniciativas da Câmara Municipal.
Ao nível do Estado Central os grandes desafios em 2020 para o nossoconcelho passam pela adjudicação da Obra da Linha do Oeste, pelo início das dragagens na Lagoa e pela abertura da Urgência do nosso
Hospital Distrital.

Daniel Pinto,
vereador do PS na Câmara de Rio Maior e director da EHTO

Daniel Pinto,
vereador do PS na Câmara de Rio Maior e director da EHTO

1. Quero muito que o meu concelho de Rio Maior, no ano 2030, possa estar já a beneficiar de uma aposta clara e inequívoca numa estratégia de especialização inteligente na área da Cultura. À semelhança da visão de futuro que foi concretizada brilhantemente com a opção de desenvolvimento e investimento na área do Desporto (Escola Superior de Desporto de Rio Maior, Centro de Estágios e Formação Desportiva, Complexo Desportivo, Centro de Alto Rendimento da Natação, Desmor) o concelho de Rio Maior precisa urgentemente de uma revitalização cultural, com mais energia e vitalidade, com inovação e criatividade, que possa recuperar e valorizar toda a oferta material e imaterial, todos os recursos tangíveis e intangíveis, de forma a gerar mais e melhor qualidade de vida para todos os que vivem e trabalham no Concelho e, também, como forma de afirmação territorial, que permita a criação de uma oferta de produtos e serviços com capacidade para atrair visitantes, turistas e investidores.
Desejo, também, que o serviço público de abastecimento de água do concelho de Rio Maior beneficie de investimento tecnológico proporcionando uma melhoria na eficácia do sistema, reduzindo as vergonhosas e calamitosas Perdas de Água (atualmente próximo dos 60%), proporcionando uma redução do tarifário da Água a todos os munícipes.
Espero que o País consiga combater as desigualdades sociais criando melhores condições de acesso à saúde, justiça, educação e cultura, travar a corrupção e a irresponsabilidade económico-financeira punindo exemplarmente os prevaricadores e, por último mas não menos importante, que a batalha das alterações climáticas e a sustentabilidade ambiental possa concretizar-se em pleno.
2. Espero poder contribuir para a construção do futuro com a apresentação de ideias e propostas válidas para o desenvolvimento integrado do meu concelho e que as mesmas possam ser analisadas, debatidas e discutidas, tendo em vista a sua concretização. Considero que o verdadeiro espírito democrático que potencia o crescimento assenta numa lógica de trabalho colaborativo que valoriza a bondade e a oportunidade do pensamento e das ideias, aceitando o contributo de todos aqueles que desejam e ambicionam mais e melhor para a sua terra.
A nível pessoal pretendo durante o 2020 desenvolver um estilo de vida mais saudável, reforçando e melhorando a prática desportiva e exercício físico, complementando com uma alimentação equilibrada e diversificada.

Rui Pedrosa,
presidente do IPLeiria

Rui Pedrosa,
presidente do IPLeiria

1. Existem muitos desafios que temos e que em 2030 gostaria muito que fossem uma realidade para afirmar cada vez mais o Politécnico de Leiria como uma instituição de ensino superior de referência, quer a nível nacional, quer a nível internacional. Em 2030 gostaria que fossemos a mais prestigiada Universidade Politécnica de Portugal, com programas de doutoramento de interface de sucesso, com ofertas de formação inovadoras e flexíveis, onde os estudantes pudessem escolher os seus próprios percursos de formação académica num ambiente multicultural único, facilitado pela mobilidade sustentável dentro da região que permitisse uma ligação intercampus fácil e permanente.
Gostava de ver os nossos campi como exemplos de sustentabilidade ambiental indutores de transformação social e cultural baseados na excelência de investigação e inovação desenvolvida, em particular, pelas nossas unidades de investigação.
Em 2030 gostava de ver a “nova” Escola Superior de Educação e Ciências Sociais como exemplo de um edifício sustentável e indutor de inovação pedagógica e de vivência académica. Gostava ainda de ver uma maior e melhor oferta das residências de estudantes com capacidade para receber os nossos estudantes nacionais e internacionais e muita atividade cultural, desportiva e académica num futuro pavilhão multiusos do Politécnico de Leiria. Estes são só alguns dos objetivos, que acho perfeitamente realizáveis e alcançáveis para o Politécnico de Leiria na próxima década.
2. Talvez o principal desafio seja a construção de um projeto vencedor e único no âmbito da candidatura que estamos a liderar para as Universidades Europeias, criando uma rede europeia de universidade de referência na geração de profissionais com competências avançadas e de futuro. Em linha com este grande desafio, desenvolver uma estratégia diferenciadora, a nível nacional e internacional, suportada na inovação pedagógica e na flexibilidade curricular, em particular nos mestrados.

Humberto Marques,
presidente da Câmara de Óbidos

Humberto Marques,
presidente da Câmara de Óbidos

1. Mais do que gostar, creio que é imperativo que, nos próximos 10 anos, consigamos recuperar algum do tempo perdido e, na região, até 2030, destaco a construção do novo Hospital e a modernização da Linha do Oeste, nomeadamente o seu prolongamento até Coimbra e em locomotivas 100 por cento eléctricas.
Em relação ao novo hospital – e já o disse por diversas ocasiões – precisamos desta infra-estrutura sem estarmos a discutir localizações. Precisamos, a partir do perfil de Saúde do Oeste, de definir que valências queremos para esse novo hospital, mas também respondermos a um hospital que tenha a capacidade de atrair os activos mais importantes, que são os seus profissionais. Em última instância, podemos ter maravilhosos edifícios e maravilhosos equipamentos, mas se não tivermos profissionais, vamos ter poucos recursos, ou poucas capacidades de diagnóstico e de tratamento no sistema de saúde, no Oeste. A localização deverá ter em conta as especificidades e, acima de tudo, as necessidades da região e não as “cores” que os concelhos vão tendo ao longo deste tempo.
Relativamente à Linha do Oeste, lamento que tenham vindo a ser criadas expectativas na população entre Lisboa e as Caldas. As obras não avançam e aquilo que se vai fazendo é apenas um remendo em cima de outro remendo. Há que mudar o paradigma e aproveitar esta onda verde que nos invade enquanto sociedade. Os jovens estão muito atentos ao transporte menos poluente, ao transporte colectivo, à forma de poder ir de um local para o outro com o menor impacto possível. Ora, a Linha do Oeste pode ser uma mais-valia dentro desta tendência galopante – e ainda bem – ligada ao ambiente e às alterações climáticas. É imperativo ter uma ligação rápida e confortável entre Lisboa e Caldas da Rainha e, ao mesmo tempo, prolongar a Linha do Oeste para Norte, até Coimbra, para que nos liguemos à restante ferrovia, reforçando a rede nacional.
Os próximos 10 anos serão essenciais para que possamos mudar o paradigma e perceber que as novas gerações vão exigir que a sociedade seja mais verde, mais colectiva, mais global.
2.  Para este ano de 2020 todos os projectos que estão inscritos no nosso orçamento são essenciais, até para ir ao encontro da mudança de paradigma que falava acima. Vamos avançar com construção da Praça da Criatividade e, com isso, dar uma nova centralidade à vila de Óbidos; vamos avançar com a Mobilidade Suave, que vai permitir ligar o concelho através de ciclovias e outros projectos verdes e amigos das pessoas; vamos concluir o projecto dos antigos Armazéns do Vinho, em A-da-Gorda; queremos a requalificação do Centro de Saúde de Óbidos e a construção do novo quartel da GNR… Estes são apenas alguns dos exemplos do que temos pela frente. Desafios cada vez mais importantes, porque mais importante é também a forma como todos os concelhos se relacionam, nesta lógica de pensar o nosso território em relação ao todo. E isso é, sem dúvida, o nosso maior desafio. Um desafio de gerações. Global e integrado.