Já não é novidade, mas é uma tradição que se realça: em Salir de Matos há mais de 50 anos que a população se reúne para produzir chouriços para o Santo Antão e dessa forma angariar dinheiro para a paróquia. Este ano os 3400 quilos de carne irão dar origem a mais de 3000 metros de chouriços. Faltam os fumeiros no Centro Paroquial, o que obriga a levar os chouriços para fumar nas Trabalhias e Cabreiros.

É sábado de manhã, 5 de Janeiro. No Centro Paroquial de Salir de Matos cerca de uma centena de pessoas vai enchendo e atando os chouriços. O primeiro andar do edifício parece uma autêntica fábrica, com duas linhas de enchimento. Pelo chão há serradura espalhada para evitar que a carne que cai fique agarrada ao pavimento.
Dois dias antes, os 3400 quilos de carne foram cortados e temperados, tendo ficado a marinar em alguidares. Hoje na casinha onde estão os fornos do pão, está Lurdes Sábio a separar as tripas e a colocá-las de molho. Há 30 anos que Lurdes Sábio ajuda a encher os chouriços do Santo Antão. “Quando comecei ainda se ia matar os porcos no Zé Mestre. Agora as tripas só têm de ser lavadas, mas nessa altura tinham que ser temperadas”, recordou.
Cá fora estão mais quatro senhoras a lavar as tripas, que são depois levadas para o centro. Lá dentro, nas tais duas linhas de enchimento, há quem vá recarregando as máquinas com carne, quem forre o tubo com a tripa e dê ao pedal para a carne sair e quem bata e ate os chouriços. Uns tiram o louro e as gorduras a mais dos alguidares, outros carregam o produto final em carrinhas para levar para os fumeiros (nas Trabalhias e Cabreiros), onde os chouriços ficam uma semana a fumar. “Antigamente tínhamos fumeiro aqui em Salir de Matos e será o próximo passo voltar a ter”, explica Armando Santos, da direcção do Conselho Económico da Paróquia, notando que será necessário comprar um espaço para os fazer.
Depois dessa semana, os chouriços são trazidos para Salir de Matos para serem vendidos na festa do Santo Antão, que precede a de Óbidos (uma das mais conhecidas na região e onde não faltam, claro, os chouriços de Salir de Matos).
De resto, a interajuda entre os organizadores das festas de Santo Antão é comum. Por exemplo, no enchimento em Salir de Matos participaram alguns dos organizadores da festa do Peso.
Os lucros da venda dos chouriços revertem para melhorias na paróquia. Foi através desta iniciativa e, por exemplo, da venda do pão caseiro todos os domingos (120 quilos de farinha por domingo), que se conseguiu angariar dinheiro para obras como o novo centro paroquial ou as obras no antigo.
Entretanto é chegada a hora de almoço, em convívio, no próprio Centro. O repasto é feito por algumas voluntárias, que foram cozinhando enquanto os outros enchiam os chouriços.
Depois de comer, todos voltam ao labor pois há 3400 quilos de carne para enchouriçar em mais de 3000 metros de tripa.

Aproveitamos e falamos com Dionilde Camacho e a sua neta, Alexandra Camacho. A jovem, com apenas oito anos, já tinha participado nesta iniciativa no último ano e diz que gosta de vir. “É um bocadinho difícil atar, mas eu gosto de passar aqui o dia!”, exclamou.